Há momentos em que palavras e gestos não conseguem exprimir
os sentimentos que envolvem os corações humanos diante da tragédia, seja ela
pessoal ou coletiva. Tragédias essas onde apenas as justificativas simplistas
não alimentam a necessidade que temos de uma explicação madura e condizente ao progresso
intelecto-moral já alcançado.
Refiro-me a justificativas tais como: “é a transição”, é “a
lei de causa e efeito”. Ou ainda, “nada devemos temer, pois Jesus está no leme
deste barco navegante em mares tumultuosos”.
Essas “explicações” poderiam levar à uma acomodação de
pensamentos e sentimentos, já que “nada podemos fazer” diante da lei de “causa
e efeito” que atinge vítimas e algozes, e nos coloca “a salvo” de qualquer
evento menos feliz. Mistura de carma indiano com lei de talião mosaica.
Por outro lado, as aflições que muitos hoje vivenciam fruto
de desastres ecológicos principalmente no Brasil, oriundo da ganância de
governos e empresas multinacionais, de assaltos com morte, principalmente nas
grandes metrópoles, e por abandono e violência, está ceifando vidas que não
suportam conviver sem seus amados, seus pertences, sem o trabalho que lhes
garantia a dignidade de viver.
O suicídio foi institucionalizado por circunstâncias as mais
diversas além das acima citadas, como a imolação da própria vida para o
cumprimento da jihad islâmica e assim alcançar o paraíso distante do mundo
ocidental perverso e corrupto; como único caminho para abolir o sofrimento
diante da perda de entes queridos, de bens materiais que sustentavam a família,
e ainda pelo fato de enfermar sem perspectivas de futuro, e, muitas e muitas vezes
por tristeza, vazio existencial e estresse emocional.
Como exemplos, o governo dos EUA enfrenta hoje uma epidemia
de suicídio nas fileiras militares por parte de jovens traumatizados pelas guerras
das quais participaram no Oriente Médio; o Japão enfrenta epidemia de suicídio
de jovens que não conseguiram matrícula nas universidades mais conceituadas e
partem para a alternativa cultural do autocídio como saída estratégica da vida
e manutenção do orgulho pessoal e familiar.
E poderíamos elencar todas as causas possíveis para essa
“alternativa” que milhões buscam hoje no mundo inteiro para não enfrentarem a
dor e o sofrimento, o vazio existencial e a sensação de abandono.
O ser humano está em crise profunda. Não podemos achar que as
Leis Divinas estejam por detrás dessa tragédia. Se Deus é misericordioso, as
Suas Leis, que expressam o Seu pensamento, expandem o Seu amor por toda a
humanidade nesse instante. As Leis Divinas são misericordiosas, nunca agem em
desacordo com Deus, pois Ele as dirige e comanda, embora o homem seja o algoz
do próprio homem, embora haja optado pela cruel lei de talião contra o próximo
e contra si mesmo.
Então, porque tudo isto?
O que faz um jovem imolar-se tão cruelmente por um ideal utópico
preconizado por argumentos rasteiros, como vemos hoje os jovens que se unem a
grupos dotados de ódio profundo à civilização e tudo o que ela representa?
Qual a verdadeira causa dessa ausência de si mesmo? Não somos
adeptos de explicações menores nem justificativas que nada explicam, senão
ampliam o nosso estupor diante de tanta dor.
Sem dúvida que as verdadeiras causas, geradas ao longo de
6.000 anos de civilização, permanecem ocultas à curiosidade e julgamentos
parciais e limitantes, porém, podemos visualizar a AUSÊNCIA DE AMOR como
paradigma a ser superado. Amor ao próximo, amor à natureza, amor ao país que
acolhe as comunidades dentro de suas fronteiras, amor ao ar e ao alimento que
nutre a vida, amor à família que traz à reencarnação, amor ao trabalho – por
mais humilde que seja – que faculta conforto, amor a tudo o que nos cerca, amor
sem apego, amor sem exigência, sem satisfação e egolatria pessoal.
Respeito ao corpo que abriga a alma. Que fala com ela quando
tem dor, quando tem fome e sede, quando precisa de higiene e cuidados,
quando encaminha a alma às experiências
pessoais e à convivência com o outro.
Corpo que resiste aos desvarios e erros de conduta, mas que
vai se esfacelando diante dos abusos a que tenta desesperadamente resistir.
Talvez o homem quisesse ser como Ícaro que voa em direção à
luz que tanto almeja mas quanto mais se aproxima, ela, a falsa luz das utopias
terrestres derrete as frágeis asas e o projeta no vácuo e na escuridão.
Pensadores e filósofos somatizaram seus próprios problemas
existenciais e criaram as filosofias existencialistas; encararam a prevalência
do orgulho e do egoísmo nas comunidades onde viviam como “culpa” de Deus,
daquele Deus cruel e desfigurado por três divinas pessoas que nada faziam
diante das dores humanas. E preconizaram o suicídio como alternativa de fuga do
sofrimento sem esperança.
Por outro lado, sabemos que há falanges e falanges de
Espíritos em verdadeiro desvario moral, emocional e existencial hoje
reencarnados na face do planeta. Mas, perguntaríamos, e as influências do
ambiente em que vivem? E o materialismo feroz que os isola (refiro-me aos
jovens recrutados pela ferocidade e loucura de uns poucos) e agride sem perspectivas de um possível
refazimento (mesmo que minimamente) a potencializar a chama divina que trazem
consigo (afinal também são criaturas de Deus)?
Meditemos na mensagem de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Caridade
para com os Criminosos... sem julgamentos, sem ódio que alimenta ódio, mas com
espírito de misericórdia, tal como Jesus olhou a humanidade que o torturou, e
oremos neste momento de grandes aflições.
Vamos buscar alternativas para que o país no qual vivemos
seja respeitado e a sua população encontre mecanismos de bem viver.
Lei de Causa e Efeito
não é lei de talião; o barco que Jesus conduz nesses mares revoltos não
prescinde de nossa colaboração para que continue a navegar em segurança.
E nós, espíritas, temos o dever e a responsabilidade de sair
da nossa acomodação e semear a Paz, a Fraternidade, a Esperança e a Consolação
nos corações próximos ou distantes. Isso também se chama FRATERNIDADE.
E você, meu irmão e minha irmã que pensa continuadamente no
suicídio como rota de fuga ao sofrimento que o/a atormenta, pense que o
Espírito é imortal, seu corpo sofrerá o efeito desastroso de seus atos, que não
solucionarão os seus problemas; mire-se em Jesus, acolha-se em seus braços,
busque-o com toda a força de sua vontade, refugie-se em seu olhar doce e
humilde mas enérgico e forte, como o irmão mais velho que Ele é, e busque a
serenidade com Ele, em Suas palavras, em Sua mansuetude, em Seu amor. E
descanse a sua mente fatigada com Ele.
Sonia Theodoro da Silva