Em tempos de provas e reajustes, falar sobre Amor e Felicidade
pode parecer utopia. Contudo, Jesus também falou de paz em tempos de guerras,
falou de perdão em tempos de ódio, de piedade em tempos de desprezo, de
responsabilidade em tempos de omissão.
Então por que não falar de Amor e Felicidade em nosso tempo
onde parece que as pessoas vivem um distanciamento contundente de sua própria
humanidade? Quando nos parece que o “próximo” é alguém tão distante quanto os
mais distantes astros do Universo? Justamente por isso, por causa desse
distanciamento é que devemos tentar essa reaproximação.
Vivemos tempos onde os dramas de toda sorte acontecem:
flagelos naturais, flagelos provocados pelos próprios seres humanos. A tão
distante solidariedade está ressurgindo aos poucos, porque movida pela força
das coisas. Talvez nos convidando a redefinir o conceito e o significado de
felicidade, assim como amar.
Por séculos temos buscado ser felizes com o usufruto dos
prazeres imediatos e mundanos, “amando” tudo o que nos cerca e nos traz apenas satisfação
momentânea.
Ao longo da história da Filosofia, escolas surgiram no
sentido de também buscarem respostas para as questões mais prementes da vida.
Os existencialistas por exemplo, tem a capacidade de nos mostrar a realidade
como ela é, sem fugas ou escapismos. E por serem tão contundentes, incomodam.
Mas são úteis, tremendamente úteis em nosso tempo de tragédias e desenganos,
oferecendo-nos uma saída que evoque mudança. Mudança no agir, mas sobretudo no
pensar, subalterno daquele.
Por isso Allan Kardec surgiu no auge da retomada de caminhos
seguros que nos fazem repensar o nosso tempo, mas, sobretudo, as nossas ações.
Em “Ética a Nicômaco”, Aristóteles diz que a felicidade é o
maior bem desejado pelos homens e o fim das ações humanas, este último, com
sentido teleológico, como a sua filosofia, quando afirma que o bem é aquilo a
que todas as coisas tendem.
Não está distante das afirmações de Jesus e de Kardec, que,
priorizam o exercício do Bem como a finalidade da vida humana.
Mas até compreendermos isso, temos um caminho a percorrer.
“Aristóteles diz que
tanto as pessoas mais sábias quanto as pessoas menos doutas concordam que toda
a ação humana tem como objetivo alcançar a felicidade. Se faz parte da natureza
humana o desejo de ser feliz, o fim mais elevado não poderia ser outro e, por
isso, há esse consenso. (W.J.P.dos Santos)”
Contudo, precisamos considerar que não há consenso sobre o
sentido do que seja “felicidade”. Esse sentido varia conforme as culturas, os
países, o nível evolutivo das criaturas. Kardec enumera em O Livro dos
Espíritos, nas questões de número 100 a 110, esses degraus, o que torna
bastante claro que ser feliz e amar está em acordo com a capacidade que as
criaturas tem de apreender esse sentido.
Assim como Aristóteles buscava respostas para questões
existenciais, a Filosofia Espírita, hoje, responde ao filósofo com a mais
simples das conclusões, inspiradas em Jesus: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo
como a si mesmo.
Essa felicidade jamais será anulada no coração e na mente
daqueles que compreenderem o seu verdadeiro sentido. E jamais em tempo algum
esse sentido poderá ser mudado ou apartado daquele que realmente assim o
desejou.
Sonia Theodoro da Silva, filósofa.