FILOSOFANDO O COTIDIANO
"CADA FASE DA EVOLUÇÃO HUMANA SE ENCERRA COM UMA SÍNTESE CONCEPTUAL DE TODAS AS SUAS REALIZAÇÕES." (J.H.PIRES)
FILOSOFANDO O COTIDIANO
O autor define com mestria o significado da FILOSOFIA ESPÍRITA vigente no atual estágio evolutivo em que nos encontramos.
Acompanhe conosco esse processo de encontros e desafios, que definem o Ser em busca de si mesmo através de ações que convergem a favor da paz e da Harmonia.
Educar para o pensar espírita é educar o ser para dimensões conscienciais superiores. Esta educação para o Espírito implica em atualizar as próprias potencialidades, desenvolvendo e ampliando o seu horizonte intelecto-moral em contínua ligação com os Espíritos Superiores que conduzem os destinos humanos.(STS)
Base Estrutural do ©PROJETO ESTUDOS FILOSÓFICOS ESPÍRITAS (EFE, 2001): Consulte o rodapé deste Blog.
21 de janeiro de 2021
LANÇAMENTO !!!! AS CONSOLAÇÕES DA FILOSOFIA ESPÍRITA !!!!
4 de novembro de 2020
MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO
24 de setembro de 2020
O VALOR DA VIDA
Valorizar a vida, não obstante as dores, as dificuldades, os
desafios da existência. Enfrentar com coragem e força de ânimo os problemas que
a vida nos coloca, confiando no amparo de Deus e no auxílio dos Espíritos protetores.
Conta uma lenda, que pais chorosos pediram a Deus que lhes restituíssem
o filho morto. Deus, então, mandou que buscassem em toda a Terra alguém que nunca
tivesse sofrido uma perda, então ele atenderia ao pedido.
Esse sentimento, a “perda”, pode ser sentido em todos os momentos
de transição e mudanças em nossas vidas. Mudança de trabalho profissional sem
ter tido a expectativa de deixá-lo, ou seja, demissões sem justa causa, mudança
de local de residência sem ter planejado, um namoro ou uma relação amorosa rompidos,
a morte de um familiar, a morte de um amigo ou amiga, mudanças políticas no
país que podem gerar problemas em nossas vidas, perdas materiais por eventos de
calamidade pública.
Apenas alguns exemplos, em meio a tantos que podem gerar tristeza,
desânimo, depressão.
Por outro lado, os Espíritos protetores que atuaram na
Codificação com Allan Kardec afirmaram que “não há felicidade sobre a Terra”. Felicidade,
porém, não da forma como interpretamos, pois para nós, seres humanos de um
plano moral de provas e expiações, a felicidade é a satisfação de nossos
desejos materiais, de nossas vontades e caprichos.
E hoje, quando os comerciais de TV e de redes sociais nos
estimulam a um padrão de vida que está além de nossas capacidades, sempre na
ânsia de obter mais, em detrimento de ser melhor do que se foi anteriormente, e
em comparação com outras pessoas, o sentimento de frustração cresce e traz em
seu bojo a infelicidade e a desvalia da vida que se tem.
Essa é uma visão pequena e estreita da Vida que Deus nos concedeu
para que pudéssemos, em nova oportunidade reencarnatória, realizar projetos de
Vida, saldar compromissos, usufruir de momentos felizes com a família e amigos.
Porque a vida é feita de MOMENTOS FELIZES.
Mas vejamos na Codificação e nos autores sérios que respaldam
a Codificação, os motivos pelos quais as pessoas buscam pôr um termo em suas
vidas, já que estamos, no momento desta palestra no mês de setembro, que lembra
as ações contra o suicídio.
Em O Livro dos Espíritos, Livro IV – Capítulo 1, Desgosto
pela Vida – Suicídio, os Espíritos Superiores respondem a Allan Kardec que o
desgosto pela vida, que se apodera de alguns indivíduos, sem motivos
plausíveis, deve-se à ociosidade, à falta de fé, e geralmente da saciedade.
Dizem os Espíritos: “Para aqueles que exercem as suas
faculdades com um fim útil e segundo as suas aptidões naturais, o trabalho nada
tem de árido e a vida se escoa mais rapidamente; suportam as suas vicissitudes
com tanto mais paciência e resignação, quanto mais agem tendo em vista a
felicidade mais sólida e mais durável que os espera.”
Na questão seguinte, de no. 944, Allan Kardec pergunta aos Espíritos
Superiores se o ser humano tem o direito de dispor da própria vida, a que os
Espíritos respondem: “Não, somente Deus tem esse direito. O suicídio voluntário
ou autocídio, é uma transgressão dessa lei.”
Quando Kardec questiona se o suicídio não é sempre voluntário,
os Espíritos acrescentam: “O transtornado mental que se mata não sabe o que faz”.
Essa loucura a que os Espíritos se referem pode ter várias
origens: questões de ordem obsessiva seja psiquiátrica e/ou espiritual, geradas
nesta existência ou oriundas de vidas anteriores.
Ao ímpeto de ceifar a própria existência tendo como causa o
desgosto pela vida, os Espíritos Superiores são enérgicos ao afirmar que o
trabalho pode preencher o vazio existencial.
E é neste ponto que enfatizo as centenas de ONGs que atuam
efetivamente na preservação da vida humana e do meio ambiente, com destaque a Fraternidade
Sem Fronteiras, os Médicos SF, SOS Mata Atlântica, Greenpeace Brasil, WWF
Brasil, Mata Ciliar, mas também os trabalhos voltados a exilados de outros
países e os sem teto em nossa cidade.
Ao trabalharmos a favor da vida do próximo, sua dignidade, o
nosso coração se repleta de bem estar.
À pergunta de Allan Kardec, sobre o que dizer acerca daquelas
pessoas que querem escapar às misérias e decepções deste mundo, os Espíritos
Superiores respondem que Deus ajuda aos que sofrem, que felizes são aqueles que
as suportam sem se queixar, porque serão recompensados.
Isso também vale para a Eutanásia. Allan Kardec abordou esse
tema em O Livro dos Espíritos, e os Espíritos respondem categoricamente que a
ciência poderá trazer lenitivos e até um socorro inesperado no derradeiro
momento.
O Espiritismo admite a Ortotanásia, que consiste em aliviar o
sofrimento de um doente terminal através da suspensão de tratamentos que
prolongam a vida mas não curam nem melhoram a enfermidade. Etimologicamente, a
palavra "ortotanásia" significa "morte correta", onde orto
= certo e thanatos = morte.
Diferente de Distanásia, que prolonga a vida de um paciente
terminal mesmo que não haja mais condições de retorno à saúde.
Em qualquer circunstância, ou situação a Vida é preciosa, ela
nos foi concedida por Deus, como uma grande oportunidade, para buscarmos a
nossa realização pessoal, para vivermos num país belíssimo como é o Brasil, não
obstante as questões sócio-políticas, isso não importa, o que importa é o que
possamos fazer para vivermos bem conosco
e com os outros.
E o que dizer do abuso das paixões? Dizem os Espíritos
Superiores que se trata de um suicídio moral. Há neste caso esquecimento de si
como criatura de Deus, e do próprio Deus.
Em o livro O Céu e o Inferno, Allan Kardec entrevista várias
Espíritos desencarnados em circunstâncias dolorosas, inclusive suicídio
voluntário, em diversas circunstâncias. A literatura mundial consagrou o
suicídio de homens e mulheres em nome do amor, como Shakespeare em Romeu e
Julieta, e Léon Tolstoi em Anna Karenina. Este último, veio a comunicar-se com
a médium brasileira Yvonne do Amaral Pereira, e relatou que seu livro,
publicado em 1877, serviu de estímulo a inúmeros suicídios de mulheres em seu
tempo. Tolstoi voltava assim, à Terra, na condição de Espírito comprometido a
cumprir com o compromisso de valorizar a vida alheia, através de trabalhos de
psicografia com a médium brasileira. Há vários livros dessa rica parceria,
publicados pela FEB-Federação Espírita Brasileira.
No Capítulo II de O Livro dos Espíritos, estes abordam a
filosofia existencialista em seu ramo ateu, quando os Espíritos Superiores
afirmam categoricamente que o Nada não existe.
O Nada foi tema de obras de filósofos da categoria de Friedrich
Nietzsche, Jean Paul Sartre, os atuais franceses Luc Ferry e André Comte-Sponville e o inglês Alain de Botton.
Como que antevendo as circunstâncias que abalariam as crenças
humanas nas religiões, principalmente na Europa, desestabilizada e
desestruturada durante séculos pelas ações de religiosos equivocados e imersos
na sanha pelo poder a todo custo, o Espiritismo surge na aurora do século 20,
poucos anos antes de duas grandes e devastadoras guerras mundiais que abalariam
o espírito de crença e devoção a Deus.
Quando Nietzsche diz, através de seu personagem no livro de
sua autoria Assim Falou Zaratustra, que “Deus está morto”, ele nada mais faz do
que demonstrar a profunda, oculta e
desesperada necessidade que tem de crer no Criador que ele houvera conhecido através
de sua rígida educação religiosa protestante.
A Filosofia Espírita foi a precursora de momentos de grandes
tragédias individuais e coletivas, como a dar um sinal de esperança e consolo a
toda a humanidade dos séculos 20 e 21.
Quanto a Consolo, aquele que nos auxilia a valorar a nossa
existência, este é um tema que filósofos da Antiguidade Clássica chamaram a si,
principalmente da escola estoica romana, como Sêneca, Epiteto, Marco Aurélio, e
Boécio.
Todos viveram vidas desafiadoras, e tiveram final trágico, mas
souberam enfrentar a dor e o sofrimento com coragem.
A expressão “coragem estoica” vem dessa escola filosófica,
que além de outros tópicos não menos importantes, destaca o desprezo pela amargura,
pela consternação, pelo penar e sofrer.
A Filosofia Espírita vem nessa tangente, mas, modifica o
conceito da dor e do sofrimento, dando-lhe um significado terapêutico e
educativo.
Mesmo agora diante de tantos pesares oriundos da pandemia do coronavírus-COVID
19.
A Filosofia Espírita engrandece as provas e desafios da
existência, que colocam o ser humano num patamar de evolução moral mais
abrangente.
Léon Denis, escreveu um livro, “O Problema do Ser, do Destino
e da Dor”, onde desenvolveu seu pensamento sobre o significado da Dor para a
evolução humana. O Espírito Emmanuel abordou esse tema em quase toda a sua
obra.
E já que estamos falando em livros, eu indico o livro de
minha autoria, “As Consolações da Filosofia Espírita- O Consolo do
Conhecimento para uma época em transição”, por enquanto disponibilizado
gratuitamente no nosso portal de estudos, EM BREVE será publicado em formado de
livro pela Solidum Editora.
Eu também fiz uma Live para o Centro Espírita Nosso Lar Casas
André Luiz, que está no www.facebook.com/centroespiritanossolar
, disponível para todos.
O Valor da Vida caminha juntamente com aceitação,
entendimento, compreensão, e esperança, muita esperança na Vida e muita
confiança em Deus, nas suas Leis Divinas, nos Espíritos protetores que estão ao
nosso lado.
Sonia Theodoro da Silva, filósofa e escritora
BIBLIOGRAFIA:
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec
As Consolações da Filosofia Espírita – O Consolo do
Conhecimento para uma época em Transição, Sonia Theodoro da Silva
25 de março de 2020
Amor e Felicidade em tempos de crise
20 de agosto de 2018
Mudança Planetária: Esperanças e Consolações
Os Espíritos Superiores que assessoraram Allan Kardec em seu magnífico trabalho de síntese propiciaram à humanidade todas as condições que poderiam levá-la à mudança de paradigmas. Segundo a afirmação de Emmanuel, as revelações “evolucionam numa esfera gradativa de conhecimento” e, desta forma, vai ao encontro do pensamento do codificador – “as verdades morais constituem elementos essenciais do progresso”. Podemos deduzir, assim, que o senso moral vai se desenvolvendo à medida que os indivíduos sentem necessidade de uma complementaridade aos conhecimentos desenvolvidos e adquiridos, gerando um processo magnífico de completude em que razão e coração se integram, coesos, numa mesma aspiração pessoal e coletiva – a felicidade. Quando os Espíritos disseram que o Espiritismo seria “o Consolador prometido por Jesus”, imediatamente os corações imaturos deduziram que a esfera espiritual com eles se comunicaria a cada momento tormentoso de suas vidas, dando respostas e soluções aos problemas afligentes e angustiosos.
Contudo, a filosofia espírita é bem clara e objetiva – o ser humano progride e, ao progredir, deve assumir responsabilidades. Estas, por sua vez, lhe garantem a segurança necessária para bem conduzir-se numa jornada segura de paz e tranquilidade interior, o que não significa que outras pessoas assim agirão, uma vez que convivemos num vasto oceano de diversidade cultural, moral, intelectual, religiosa e, finalmente, evolutiva.
Nunca foi tão necessário buscar consolo no Evangelho de Jesus, em suas palavras, atitudes, conselhos. A sua presença é a do amigo de todas as horas, a do crucificado que voltou da morte a dizer que ela é apenas uma percepção incompleta, precária e aparente. Jesus não ressuscitou, ele mostrou que a morte do corpo não destrói o Espírito imortal; Jesus não é Deus, é a plenitude da evolução a que pode chegar um Espírito em contínuo progresso.
As adversidades e atribulações que atravessamos atualmente fomentam a descrença, o dissabor, a divisão e a somatização de problemas os mais diversos, enclausurando a alma humana numa visão de mundo em que a esperança (de esperançar, de estimular as boas expectativas) não encontra espaço nas mentes fatigadas pelas tragédias do cotidiano e dos eventos mundiais.
Jesus e seus apóstolos viveram num mundo em transição, passagem das crenças mitológicas para a fé racional que se completaria dois mil anos depois com a Filosofia Espírita. Daquela época para cá o ser humano obteve muitas conquistas, porém os desconcertos do Espírito que busca alimentar-se apenas de satisfações imediatistas impedem- no de olhar para o futuro de forma otimista e assertiva.
O Livro dos Espíritos, perg.119, traz uma instrução de Paulo de Tarso: “para atingir a plenitude, três coisas são necessárias: a justiça, o amor e a ciência; três coisas lhe são opostas: a ignorância, o ódio e a injustiça.” E completa: “... aquele que por um falso impulso da alma se afasta do objetivo da Criação, que consiste no culto harmonioso do belo e do bem idealizados pelo arquétipo humano, Jesus, é responsável (pela desorganização social).”
Este é o momento de mudança de paradigmas. Para tanto, temos o impulso natural para o Bem que trazemos conosco; temos modelos auspiciosos que poderão ser implantados a partir dos espaços vazios gerados pela dor e pela perda. Os Espíritos que colaboraram na Codificação estão e estarão ao nosso lado para que realizemos em nós e junto a nós esse novo modelo de paz e prosperidade espiritual, modelando a nova civilização que tanto desejamos.
Sonia Theodoro da Silva
Filósofa
(Publicado no ´Journal of Psychological Studies, London, England)
31 de outubro de 2016
SOLIDARIEDADE HUMANA
(Publicado em The SPS Journal, London, England)
Filósofa
15 de julho de 2016
CONVULSÕES SOCIAIS APOCALÍPTICAS
Fonte: Le Fígaro |
do mundo até agora.Jesus – (Mt., 24:21.)
Não falece dúvida que estamos vivendo um momento de altas ebulições catastróficas provocadas pelo homem e também pela Natureza: é o parto doloroso e cruento do Planeta de Regeneração em andamento!
O Benfeitor Espiritual Camilo, através da mediunidade de Raul Teixeira, esclarece (Carta Magna da Paz, cap. 2): O mundo terrestre está assinalado por incontáveis dessas zonas expiatórias que são, por seu turno, regiões de reequilíbrio de prodigioso contingente de filhos de Deus que, durante muito tempo ainda estarão tentando atear fogo aos campos da humanidade inteira, ou estarão envolvidos em processos de barbarismos contra seu semelhante, batendo no peito como donos da razão e senhores da verdade.
Deus, contudo, aguarda que na grande fogueira por eles mesmos montada, queimem-se, ainda que morosamente, os fluidos pestilenciais que vão dando margem ao aparecimento de fluidos salutares, que irão preenchendo os vazios morais do planeta.
Para os olhos do homem comum, há povos ou etnias no mundo que jamais se acertam; grupos sociais que são, historicamente, belicosos, odientos, odiados, negativos. Entanto, vale saber que já não são, obrigatoriamente, os mesmos Espíritos reencarnados no pretérito os que persistem nos gravames atuais. É que, nessas localidades, temos as reportadas regiões de reequilíbrio para onde indivíduos das mais diversas procedências terrenas são conduzidos para que renasçam ali, considerando o estado da alma, os níveis de tormento, de ódio enraizado ou de beligerância a esvurmar do próprio íntimo. Assim, aprenderão a buscar a saúde interna, o equilíbrio da mente, cansando-se da loucura de ações irracionais, dos derramamentos de sangue, da sanha da destruição degenerativa, desistindo, por fim, de tanto pranto derramado pelos pretensos inimigos, que não passam de irmãos seus, e, por si mesmos, começarão a sensibilizar-se com as propostas de paz…
Porque somos imortais, o Criador vai-nos concedendo tempo devido para que todos nos possamos conscientizar do compromisso de avançar pela senda do progresso, que nos trouxe à Terra, verificando, com assiduidade, como andam nossos impulsos perniciosos, bem como nossos movimentos para Deus, nosso teotropismo.
9 de julho de 2016
MENSAGEM DE ESPERANÇA
Romênia |
(Publicado em The Journal of Spiritist Psychological Studies, Jul/Ago 2016, Inglaterra)
22 de março de 2016
CULTIVO UMA ROSA BRANCA
17 de março de 2016
O MEU (AMADO) PAÍS
Coração do mundo ... pátria do Evangelho ... há quem veja privilégios nestas palavras... e até uma certa arrogância; muitos julgaram ou julgam o Brasil a nova terra prometida e, nós, brasileiros, o povo escolhido que abrigaria os novos tempos. Contudo, o conceito de pátria do Evangelho é bem mais abrangente: na verdade estamos todos unidos, por afinidade, desde o passado remoto até o presente contundente: trânsfugas morais, adeptos de posturas equivocadas; desde todos os tempos, de todos os recantos da Terra, de todas as crenças e filosofias, de todas as posições sociais, de todas as sociedades e culturas, em um só e imenso lugar, onde tivéssemos as condições propícias para mudar...
4 de fevereiro de 2016
CARNAVAL OU MOZART? UM DIÁLOGO ATEMPORAL
Um dia conversávamos com um Maestro e com uma Pianista. E a nossa conversa girava em torno de, claro, música. Foi quando o Maestro, desviando o assunto, exclamou: Mas, e o carnaval? Onde fica a cultura nesses dias onde tudo é permitido? Quando as mulheres esquecem o pudor e os homens, ah, estes nem se fala!..
O prezado leitor já deve ter percebido que o querido Maestro pertencia à geração dos antigos. Prosseguiu ele: Eu me lembro de quando era criança, apreciava as brincadeiras, os carros que saíam às ruas em desfile. Meu tio-avô era um dos aficcionados da festa de Momo. Ele reunia seus amigos, e todos saíam em seus automóveis, portando máscaras e lança-perfumes - a máscara, para que ninguém os reconhecesse e o lança-perfumes, para que, embriagados no doce aroma, pudessem permitir-se ao divertimento, sem qualquer constrangimento.
E assim era durante os quatro dias. Na quarta-feira - ah,a contradição -, iam todos em fila à Catedral da Sé, vestirem-se de cinzas, pedirem perdão dos excessos cometidos, das homéricas bebedeiras, dos beijos roubados, das palavras mal-ditas, das noites boêmias mal-dormidas. Ah, a consciência !
Ao que a Pianista acrescentou - e as músicas, então? Simples jogos de palavras soltas, sem qualquer pretensão de aculturamento, mas, ao contrário, desprestigiando a cultura brasileira. Veja só Noel Rosa! Veja Pixinguinha! O que Villa-Lobos diria?
E eu, ouvia e meditava. Será que eles tinham ouvido falar de Tom Jobim? De Ari Barroso e do "Aquarela do Brasil"? De Chico Buarque e de suas músicas contra a Revolução de 64, que trouxe a ditadura ao Brasil? De Toquinho e Vinícius? Foi quando deu entrada à sala, o Escritor: Bem, querido Maestro e prezada Pianista, onde fica Lobato nesta história? Sem falar dos universais Castro Alves, Alencar, Victor Hugo, Alexandre Dumas, e Charles Dickens? E Shakespeare? E o nosso Machado? Falando em Universais, disse o Maestro, falemos de Mozart! E bateu palmas, feliz.
Quando ele disse - Mozart - meu coração quedou-se, como num staccato de uma grande sinfonia. E num momento atemporal, onde não existe espaço, nem dimensões como as conhecemos, mas um grande Silêncio, ali, à minha frente, num maravilhoso foco resplandecente de cores e luzes, surgiram como num mosaico em movimento, todos os grandes compositores, pensadores, instrumentistas e virtuoses, poetas, pintores, escultores, educadores, estetas, num portentoso concerto em homenagem à ela, a Arte. E seja por inspiração do grande compositor, ou porque o momento era propício, a sala transformou-se, feéricamente iluminada por lustres invisíveis como de cristal, aumentando suas dimensões, atingindo as esferas celestes, transfigurando os nossos personagens, mudando o teor e o colorido das conversações.
E o Escritor, inspirado, disse: O objetivo essencial da Arte, é a busca e a realização do Belo; é, ao mesmo tempo, a busca de Deus, uma vez que Deus é a fonte primeira e a realização perfeita do Bem e do Belo.
Ao que o Maestro retrucou: Mas quanto mais a inteligência se purifica, se aperfeiçoa e se eleva, mais se impregna da idéia do Belo!
Disse a Pianista: Sim, o objetivo essencial da evolução será, portanto, a busca e a conquista da beleza (em sua essência, sem atavismos e aparências), a fim de realizá-la no ser e em suas obras. Tal é a regra da alma em sua ascensão infinita.
Na Terra, completou o Escritor, nem todos os artistas inspiram-se nesse ideal superior. A maior parte limita-se a imitar o que chamam "a natureza", sem se aperceberem de que esta não é senão um dos aspectos da obra divina. Porém, no espaço, continuou a Pianista, a arte se reveste, ao mesmo tempo, das mais sutis e mais grandiosas formas, e ilumina-se com um reflexo divino.
E o Maestro: meus caros, nada se iguala à Música. Vejam uma “Meditação de Thaís” de Jules Massenet! Quanta grandiosidade, quanta leveza!
E eu, pobre mortal, pensei, mas, e Mozart, e o carnaval?
Continuou o Maestro, lembramos aqui que todo Espírito que emana de Deus não apenas possui uma centelha da inteligência divina, como, ainda, goza de uma parcela do poder criador, poder que ele é chamado a manifestar cada vez mais no decorrer de sua evolução, tanto em suas encarnações planetárias quanto na vida no espaço.
Na Terra, sob o véu da carne, essa inteligência e esse poder ficam diminuídos; e contudo é maravilhoso constatar até que ponto o talento do homem pôde subjugar as forças brutais da matéria, vencer a sua resistência, sua hostilidade, submetê-las às suas necessidades e até mesmo às suas fantasias!
Tornei a pensar, neste caso, Beethoven, Brahms, Bach, Carlos Gomes, Dvorak, Tchaikowsky e outros, seriam exemplos disto?
Certamente, respondeu o Escritor. Mas eu apenas pensei! E ele respondeu-me!
Sim, querida menina, o pensamento cria formas, sons, em um grau mais elevado, por exemplo nas materializações de Espíritos, a vontade destes cria formas, rostos, vestimentas, atributos semelhantes aos que eles possuíam na Terra e que nos permitem reconhecê-los, identificá-los. A vontade lhes dá a consistência necessária para tocar os sentidos dos observadores. Os Espíritos Mozart (até que enfim, pensei novamente), Victorien Sardou e outros erigiram para si palácios ornados de plantas e de flores.
Prosseguiu o Maestro, inspirado pela citação do nome de Mozart: O papel essencial da Arte é expressar a vida com todo o seu poder, sua graça e sua beleza. A Arte se eleva e progride em todos os graus da escala da vida realizando formas cada vez mais nobres e perfeitas, que se aproximam da fonte divina de eterna beleza.
E qual não foi o meu espanto, quando deu entrada à sala, nada mais nada menos que o Filósofo, que, aproximando-se, sorridente, exclamou: A música é uma lei moral. Dá alma ao universo, asas ao pensamento, saída à imaginação, encanto à tristeza, alegria e vida a todas as coisas. Ela é a essência da ordem e eleva em direção a tudo o que é bom, justo e belo, e do qual ela é a forma invisível, mas, no entanto, deslumbrante, apaixonada, eterna.
Prosseguiu nosso Filósofo: O infinito das idéias, dos quadros, das imagens, é como um desafio aos limitados recursos do vocabulário terrestre. Com efeito, como encerrar em palavras, como resumir em palavras todo o esplendor das obras que se desenvolvem nas profundezas dos céus estrelados?
E voltou os olhos ao Educador (que, esqueci-me de citar, quedara em silêncio todo esse tempo). Ao contrário do que se imagina, começou a dizer, todos podemos acessar o Belo, pois ele é lei soberana, objetivo supremo do universo. Todos os problemas do ser e do destino resumem-se em poucas palavras. Cada vida deve ser a construção, a realização do belo, o cumprimento da lei.
Neste instante, todos (eu inclusive), silenciamos a palavra e o pensamento. Não mais nos preocupávamos com as manifestações próximas do carnaval que, se no passado trazia a imagem de uma alegria fortuita e permitida (não seria permissiva?), hoje, enlouquecia os Espíritos, na afanosa tarefa de os fazer voltar as manifestações instintivas de satisfações efêmeras, desequilibrantes, minimizando, senão anulando as capacidades evolutivas em ascensão.
Lembrei-me de Emmanuel: Há nesses momentos de indisciplina sentimental o largo acesso das forças das trevas nos corações e às vezes toda uma existência não basta para realizar os reparos precisos de uma hora de insânia e de esquecimento do dever.
A triste festa iria começar em breve. Resquícios de costumes perdidos na Antiguidade de nossa cultura ocidental, pensei, que alegria é esta que se manifesta e exige bebidas, gritos, fantasias, carros alegóricos e desregramentos para se manifestar? E o mais grave: Por quê, se estamos num mundo grande parte cristão? Mas, de pronto, lembrei-me das palavras da personagem Magda, do livro Madalena, A Conversão do Mundo: é o fermento levedando a farinha. Lembremos a parábola de Jesus. Uma medida de fermento faz levedar a massa de farinha, mas para isso tem de misturar-se com ela. O processo de fermentação é lento e apresenta várias fases. O Evangelho está no mundo e vem levedando a sua massa há quase dois mil anos. A massa cresce, mas nova farinha lhe é adicionada a cada geração. A farinha do mundo está num saco invisível, e esse saco tem as dimensões do infinito. E esse pouco mais é o acréscimo da dimensão cristã à consciência humana. O Evangelho é esse acréscimo, uma pequena medida de fermento a levedar a massa do mundo. Nosso conhecimento possível é também uma medida de fermento e precisamos cuidar que ela não se perca, não se deteriore.
Voltei os olhos ao Maestro, à Pianista, ao Escritor, ao Filósofo, ao Educador. Ainda teríamos um bom tempo antes que a humanidade em nós cedesse lugar à Espiritualidade - mas, nesse ínterim, teríamos que passar por uma extensa trajetória de aprendizado e conscientização. Lembrei-me ainda das equipes espirituais no trabalho constante de aprimoramento da ética e da moral, através de seus dignos representantes na Terra e no Espaço. Com Sócrates, a estimular o Ser à busca de si mesmo, no auto-questionamento, na perquirição filosófica constante. E a partir dele, seguiram-se na linha do tempo as figuras dos Grandes Imortais em todos os ramos da Cultura, da Arte, das Ciências Exatas, da Filosofia, da Educação, das Religiões. Foi quando todos eles me disseram: O Espírito humano não pode se elevar até as supremas alturas da Arte cuja fonte é Deus, mas ele pode, ao menos elevar a elas as suas aspirações.
E como transformar as nossas aspirações em anseios de ascensão? Ou seja, qual o caminho a seguir para alcançar uma visão de vida menos materialista, menos embrutecida, menos niilista, menos imediatista, menos omissa?
E eles, sorrindo diante de minhas dúvidas, disseram: Toda ascensão da vida à perfeição eterna, todo esplendor das leis universais, resumem-se em três palavras: Beleza, Sabedoria, e Amor. E acrescentou o Filósofo: Quando nós, seres humanos, encontrarmos dentro de nós mesmos e no outro a projeção Divina do Bem e do Belo, saberemos exteriorizar de forma mais adequada a nossa bagagem interna. Até lá, lutaremos pelo entendimento, pela compreensão; em suma, pelo próprio livre-arbítrio, em seu verdadeiro sentido de condutor e libertador da nossa própria ignorância, o que nos torna, por ora, diante da Existência, ovelhas perdidas e desgarradas do aprisco do Pai, nesta belíssima metáfora de Jesus, que nos tornou parte da Criação Universal sob a Sua Égide. Então, veremos uma nova Renascença na Terra, desta feita, como resposta aos anseios de Espiritualidade dos Seres Humanos, erguidos à sua verdadeira Humanidade.
Silenciei, pois não havia mais nada a dizer.
(Sonia Theodoro da Silva)
(Diálogo virtual, com excertos das palavras de Léon Denis na obra O Espiritismo na Arte); Bibliografia: Madalena, A conversão do mundo, de José Herculano Pires.
PUBLICADO: Revista Internacional de Espiritismo, Ano 89, No.03, Abril 2004, Ano Comemorativo aos 200 Anos de Nascimento de ALLAN KARDEC.
25 de janeiro de 2016
SÃO PAULO, A CIDADE DE PAULO E DE EMMANUEL
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