FILOSOFANDO O COTIDIANO

O autor define com mestria o significado da FILOSOFIA ESPÍRITA vigente no atual estágio evolutivo em que nos encontramos.
Acompanhe conosco esse processo de encontros e desafios, que definem o Ser em busca de si mesmo através de ações que convergem a favor da paz e da Harmonia.

Educar para o pensar espírita é educar o ser para dimensões conscienciais superiores. Esta educação para o Espírito implica em atualizar as próprias potencialidades, desenvolvendo e ampliando o seu horizonte intelecto-moral em contínua ligação com os Espíritos Superiores que conduzem os destinos humanos.(STS)

Base Estrutural do ©PROJETO ESTUDOS FILOSÓFICOS ESPÍRITAS (EFE, 2001): Consulte o rodapé deste Blog.

14 de fevereiro de 2010

DEFESA DA VERDADE

Para as nossas reflexões, oferecemos aos prezados amigos internautas as ponderações de um Espírito, cujo alcance não têm limites no tempo ou no espaço, principalmente quando se trata de resguardar, por nós, espíritas, com respeito, amor e firmeza, a doutrina de luz presenteada à humanidade, há 150 anos:

“Companheiros inúmeros asseveram que os ensinos espíritas sendo a verdade, não precisam de defesa.

Criaturas comodistas, não obstante bondosas, acrescentam que sendo a caridade a base em que repousa a Terceira Revelação, não se deve chocar, incomodar ou advertir ninguém.

A verdade - afirmam, fala por si, não necessita de pessoas que lhe esposem a causa.

Entretanto, vejamos dois dos grandes princípios que dignificam a vida:

EDUCAÇÃO - Todos sabemos que a educação é realidade inconteste, mas, por isso, não deixa de ter escolas, programas, compêndios, professores e especialistas dinamizando o ensino, sem o que a ignorância contaria com o seu império de sombras consolidado na Terra.

JUSTIÇA - A justiça existe por si, no entanto, por essa razão, não dispensa tribunais, legislações, juizes e advogados que lhe administrem os recursos sem o que o mundo jamais sairia da animalidade ou da delinqüência.

Certamente que um orientador ou um magistrado não transmitem a instrução e nem aplicam a lei, à força de golpes ou a golpes de força, mas se prevalecem da força moral de que dispõem para ensinar e corrigir, clarear e reajustar.

Assim também a verdade na doutrina espírita.

Não raro, aqui e ali, repontam obscuridades e enganos que, se acalentados, criam raízes de erros, estabelecendo prejuízos incalculáveis nos domínios do sentimento; de outras vezes, idolatria e trama artificiosa se levantam, com meloso enredo, ameaçando edificações morais de elevado alcance, a carrearem absurdidades e discórdias, através de mesuras ardis.

Ninguém precisa ferir ou impor nesse ou naquele ponto de sustentação doutrinária, mas o espírita tem a obrigação de estudar e refletir, assegurar a limpidez dos ensinos que abraça e garantir-lhes a difusão clara nos alicerces do discernimento e da lógica, sem o que as consciências humanas, mesmo as que estejam sob os rótulos do Espiritismo, continuarão adstritas ao fanatismo e à superstição.

Não nos cansemos, pois, de trabalhar e servir mas sem deixar de raciocinar e esclarecer.”

LUIZ, André (Espírito), VIEIRA, Waldo. Sol nas Almas, it. 29, pg.89,13a. Ed., Ed. CEC, Uberaba- MG

ESTUDOS FILOSÓFICOS (BEZERRA DE MENEZES)

Poucos conhecem os artigos e crônicas escritos pelo dr. Bezerra de Menezes para o jornal O Paiz, jornal mais lido no Brasil em fins do século XIX, com sede no Rio de Janeiro sob a direção de Quintino Bocaiúva, com o pseudônimo de Max. Por volta de 1977, Freitas Nobre, fundador da Folha Espírita e conhecido pela sua atuação nos meios políticos de São Paulo, pesquisa, organiza e lança este trabalho em formato de livros publicados naquela data, em três volumes.

Esclarece Freitas Nobre que a primeira edição em livros saiu publicada em Portugal, e o seu trabalho concentrou-se em torná-los mais didáticos, titulando os capítulos conforme os conteúdos nele contidos. Sem pretensões de aprofundamento filosófico, como em outro livro de sua autoria “A Doutrina Espírita”, mais conhecida como “A Carta de Bezerra a seu irmão”, pois o público alvo a quem se dirigia era a população da cidade do Rio de Janeiro, Bezerra de Menezes, contudo, transita pelo vastíssimo universo do conhecimento filosófico, para nele encontrar pontos de conexão com a Filosofia Espírita.

Desde o período pré-socrático, adentrando pelo helenismo com Sócrates, Platão, Aristóteles, Bezerra transita pelos neo-platonicos, por Orígenes, para trazer-nos as idéias sobre reencarnação, mediunidade, lei de causa e efeito, a situação do Espírito após a morte, Deus, Espírito e matéria, as condições intelecto-morais que determinam a felicidade ou a auto-flagelação consciencial dos humanos. Idéias que permeavam o pensamento dos sábios da Antiguidade, porém, algumas, vestidas do momento mitológico em que viviam, são revisitadas pela doutrina dos Espíritos, trazendo-as despidas dos véus de Ísis, que acobertavam a realidade com a magia do mistério.

Grande admirador de Léon Denis, e por este igualmente admirado, permutavam correspondências, e em muitas ocasiões foi o eminente pensador francês o representante do Brasil, nos eventos de importância cabal para o processo de fortalecimento do Espiritismo em terras européias. Presidente honorário da Federação Espírita Brasileira, Léon Denis nutria carinho especial pelos espíritas brasileiros e em sua obra Depois da Morte refere-se ao desenvolvimento do Espiritismo no Brasil, enfatizando os esforços de seus pioneiros, com ênfase a Bezerra, sobre quem, após o seu falecimento, manifestou os seus sentimentos dizendo: “Quando um tal homem desaparece, é uma perda não só para o Brasil, mas para os espíritas do mundo inteiro.”

Léon Denis e Bezerra de Menezes, pensadores legítimos da Filosofia Espírita que se desdobra naturalmente em Ciência e Religião, pois é desta forma que o conhecimento é construído: o fenômeno, seu estudo e pesquisa que derivam numa filosofia e seus desdobramentos ético-morais, são os condutores naturais da via de acesso ao conhecimento espírita, que, tempos depois, teve a sua sequência natural com a missão do Espírito Emmanuel, condutor de falange de Espíritos dedicados ao desenvolvimento do tríplice aspecto de abordagem doutrinária, transitando igualmente pela literatura romanceada, e pela poesia.

Absoluta coerência; total harmonia de propósitos e desprendimento em prol da causa de Jesus, que, renovada após quase 2000 anos de peregrinações pelo mundo, jazia morta nos templos que o homem erige para o seus próprios e efêmeros objetivos.

A aliança – mencionada na Bíblia – entre Deus e o homem, se transfigura, desmitifica e desmistifica-se com o Espiritismo, que surge, radiante, como resultado natural das conquistas realizadas pelos nobres Espíritos do “céu” e da Terra.

Como orientação aos iniciantes do Espiritismo, mencionamos os seguintes autores e seus enfoques de abordagem, embora os mencionados também desenvolvessem seus estudos igualmente sobre outros aspectos, porém todos sob os legítimos alicerces da Codificação espírita:

• Filosofia : Léon Denis, Bezerra de Menezes, Deolindo Amorim, José Herculano Pires.
• Ciência (aqui cabe mencionar pesquisadores sobre mediunidade, antropologia espírita, cosmologia, física, medicina, reencarnação, etc.): Gabriel Dellane, Ernesto Bozzano, Cesar Lombroso, William Crookes, Alexandre Aksakoff, Camille Flamarion, Albert de Rochas, Arthur Conan Doyle, Alfred Russel Wallace, Hernani Guimarães Andrade, André Luiz (Espírito) .
• Princípios ético-morais: Emmanuel (Espírito), Cairbar Schutel, Eurípedes Barsanulfo, Hermínio C.Miranda.

Com base nos autores acima, o conhecimento estará solidamente estruturado com base em senso crítico onde a precisão e a fidelidade à legitimidade dos ensinos dos Espíritos Superiores sejam a tonica.

Certamente hoje existem autores sérios que seguem os mesmos caminhos de seus predecessores e, portanto, serão facilmente identificáveis pela seriedade de seus trabalhos e pela conduta com que norteiam as suas pesquisas espíritas.

Segundo Gabriel Dellane, em mensagem psicografada em 2004, em Paris: “Se o conhecimento que estamos angariando na vida não nos é capaz de libertar da sombra generalizada, sombra do intelecto, sombra do sentimento, sombra da moral, algo está em equívoco. Ou esse conhecimento não é expressão da verdade, ou, então, de nossa parte, não estamos assimilando devidamente seus conteúdos. É hora de despertar (...). Estamos perante o extravasar de loucuras sem dimensão; (...) explosões do egoísmo, (...) graves pelejas provocadas por incontáveis almas aturdidas. (...) à frente de tudo isso, porém, raia o Sol portentoso do Espiritismo no cerne da Codificação de Kardec, que nos deverá aquecer e iluminar para a vitória, para a espiritual libertação. ”

Bibliografia : MENEZES, Bezerra, Estudos Filosóficos – vols.I,II,III; ________, a Doutrina Espírita; MACHADO, D.J., org., Léon Denis e o Congresso Espírita Internacional de Paris de 1925; DELANNE, Gabriel (Espírito), TEIXEIRA, Raul (médium), Liberdade com o Espiritismo – mensagem psicografada por ocasião do encerramento do IV Congresso Espírita Mundial em 05/10/2004, em Paris, França(VEJA O VÍDEO NO BLOG: http://filosofiaespiritaencantamentoecaminho.blogspot.com) .

OPOSIÇÃO FILOSÓFICO-ESPÍRITA AO NIILISMO

A obra O Céu e o Inferno, desenvolvida por Allan Kardec a partir do Livro IV – Esperanças e Consolações de O Livro dos Espíritos, antecipa com absoluta exatidão de princípios, o movimento sartreano da nadificação do ser humano, porém, preparando, com argumentos inquestionáveis, a oposição necessária àquele movimento, que levaria (como tem levado) à quase absoluta descrença nos verdadeiros valores da vida. As consequências desse movimento, sentimo-las até hoje, quando analisamos mais aprofundadamente o comportamento das pessoas com relação à Natureza e ao seu semelhante. À Natureza, basta buscar nos sites dos movimentos de preservação do ecosistema (WWF, Greenpeace, SOS Mata Atlântica) e inteirar-se da amplitude da devastação que ora grassa no planeta. Ao homem, “coisificado” pelas políticas de consumo, os resultados têm sido desastrosos. As próprias relações humanas, empobrecidas pelo “quem-tem-pode-mais”, ampliaram as carências afetivas; o ser humano isola-se, perde o contato com o outro, cria necessidades fictícias, perde a confiança no futuro, desenvolve patologias cuja etiologia, desconhecida pela atual medicina construída nas mesmas bases materialistas-positivistas, permanece obscura, ampliando ainda mais o atual quadro de angústias e expectativa. O contributo das crises sócio-economicas e financeiras mundiais, pouco elucida e muito preocupa a todos.

Nesse particular, lembramo-nos de outro livro escrito por Allan Kardec, A Gênese, neste ano de 2008 comemorando seus 140 anos de primeira publicação, onde o autor descreve os tempos de transição como de “luta das idéias” (1), de onde surgiriam os graves acontecimentos preditos desde a antigüidade, agitando as “entranhas da humanidade”. Assim, o movimento existencialista teve origens nos primórdios do pensamento ocidental, quando se buscava a origem de todas as coisas – arché – na Natureza, no plano do sensível, do perceptível aos sentidos, estendendo-se ao pensamento moderno, indo ao encontro da angústia perene que habitava o coração de Soren Kierkegaard. O sentimento de melancolia, tão bem descrito por François de Genève em O Evangelho Segundo o Espiritismo (2), e confundido com depressão, é inerente ao ser humano. Diz a mensagem que esse sentimento é a angústia do Espírito preso à solidez corpuscular de um corpo físico, que o restringe, limita, aprisiona. É como o pássaro preso numa gaiola pequena, sem possibilidades de abrir suas asas, sequer ambicionar a voar. É a “vaga tristeza” (a depressão, portanto, não cabe aqui) surgida pelo anseio à liberdade, “mas, ligado ao corpo que lhe serve de prisão, se cansa em vãos esforços para escapar (...)”.

Estaria nesse vago sentimento que se manifesta através da melancolia, as origens desse movimento filosófico, que, no século XX veio a ampliar-se a ponto de fazer o homem acreditar que do Nada tivera origem e para o Nada voltaria? Talvez.

Não podemos esquecer que cada pensador deu o seu toque pessoal ao sistema filosófico empreendido em seu próprio momento existencial.

As próprias religiões, em pouco ou nada ajudaram a resolver esse problema, já que exarcebaram o sentimento de culpa pela morte do Salvador, preso à cruz de seus (e nossos) tormentos perpétuos. Olhando ad eternum para o Cristo crucificado num altar de louvações a um corpo morto pelas dores da ignorância humana daqueles tempos, as cerimônias repetem exaustivamente, há 2.000 anos, o episódio do sangue e da carne ingeridos em glória ao Deus que exige sacrifícios de almas e corpos para ser temido e respeitado. As massas populares, cansadas de tanto transferirem ao seu inconsciente, por gerações, essa tragédia mal explicada e mal digerida, abrem as portas das catedrais, e saem em busca de ares renovados, de redenção pela razão, de fé que as conduza ao coração de um Pai que as ama, pois por Ele foram criadas.

E mal podem crer que um Cristo – 2ª. Pessoa da trindade – possa ter algo para lhes dizer, porque ele exige, para ser seguido, dor, sofrimento, humilhação, solidão, sacrifício, flagelação...

Não sem razão, Nietzsche, tido como o profeta da crise secular do Ocidente, e seguindo essa mensagem subliminar pregada na cruz de Jesus, anuncia a morte de Deus – seu núcleo de reflexão -, já que esta anuncia o progressivo desaparecimento na cultura do homem moderno de todas as filosofias, religiões ou ideologias que no passado exerciam a tarefa de iludi-lo e consolá-lo.

Esta questão posta por Nietzsche, mais ampla do que o espaço de que dispomos em nossa coluna, mas que merece a reflexão de nossos leitores, conduziram o ser humano a uma vivência dentro do espírito dionisíaco preconizado pelo referido pensador, que tem como premissas a aceitação do caos intrínseco à vida, da sua ausência de sentido e de significado.

Contrapondo-se à religião, o filósofo amplia a angústia do viver para o nada. Seguindo essa lógica, se para o vazio caminhamos, teríamos de usufruir ao máximo os prazeres que a vida pode proporcionar, numa (inútil) procura pela felicidade tão almejada.

No citado livro O Céu e o Inferno, Kardec pergunta aos seus leitores: “Haverá alguma coisa mais desesperadora do que essa idéia de destruição absoluta? Sagradas afeições, inteligência, progresso, saber laboriosamente adquirido, tudo seria destruído, tudo estaria perdido!”. Afirma José Herculano Pires que, cem anos após Kardec, a filosofia na França quase se desfez nos sofismas do nada, com Jean Paul Sartre e sua escola. Contudo, a companheira de Sartre, Simone de Beauvoir , confirma as palavras de Allan Kardec, ao escrever: “...detesto pensar no meu aniquilamento. Penso com melancolia nos livros lidos, nos lugares visitados, no saber acumulado e que não mais existirá. Toda a música, toda a pintura, tantos lugares percorridos – e, de repente, mais nada !” (3)

A Filosofia Espírita da existência ou posta na existência conduz o ser humano atual, da desesperança, da angústia, do estupor e da ansiedade, da melancolia e da depressão, da ausência de fé e da razão manipulada pelas religiões em agonia, das crenças fanatizantes, da hierarquia da violência e do vício, ao manancial de plenitude, pois identifica o ser consigo mesmo, conduzindo-o ao conhecimento de si e esclarecendo-o de suas causas, do porque está aqui, para onde caminha, o que o aguarda, e que depende de si mesmo e do grau de respeito que tributar à vida, a sua felicidade e o seu bem-estar; que é um Espírito imortal, cuja jornada eterna, o conduzirá a degraus cada vez mais altos onde poderá visualizar o tanto de progresso realizado, e à frente, o porvir... ; que nunca está só, embora a solidão existencial amargue as suas horas, que pode e deve caminhar com o seu semelhante, pois ambos trazem as mesmas questões, as mesmas dúvidas, porém caminham em direção a uma finalidade comum.

O Céu e o Inferno, desconstrói o mito do sofrimento e das penas eternas, e, para legitimar essa desconstrução, traz para o ser humano as respostas “do lado de lá” da existência, para os que aqui ainda estão, respostas estas que dizem de esperança, de consolação, de realização, de consolidação da fé racional, porém de responsabilidade pelos próprios atos e da necessidade consciencial de recomposição da própria vida, a cada etapa percorrida, de acordo com as Leis Divinas e misericordiosas.

O Espírito André Luiz, convocado pelos Espíritos orientadores da humanidade, completa este livro magistral com a sua obra de cunho existencial e educacional.

Deixamos o nosso leitor com a curiosidade de percorrer esses livros com a mesma expectativa de quem busca respostas adequadas para questões tão antigas: quem sou, o que faço aqui, porque, para onde devo caminhar, o que me aguarda... Seguramente não estaremos sós, pois os amigos benfeitores que nos acompanham, estrarão orientando-nos a jornada, transmitindo-nos o seu incentivo, afeto e amparo.

(1) KARDEC, Allan, A Gênese, cap. XVIII, item 7.

(2) ___________, O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. V, item 25.

(3) ___________, O Céu e o Inferno, cap. I, item 1 e Nota de J.H.Pires.

JESUS VOLTARÁ ! !

Esta é a mensagem que gostaríamos de ver escritas em todas as manchetes de jornais, nas televisões, na internet. Sim, temos a confirmação de que Jesus voltará em breve, e precisamente, na próxima noite do dia 24 de dezembro, que, embora historicamente não coincida com os fatos - mas é esta a data em que comemoramos, cristãos de todo o planeta - o nascimento daquele que foi e é o nosso maior exemplo a ser seguido.

Também poderíamos dizer - mas desta vez um pouco mais à frente -, sim, Jesus voltará no coração de cada homem e de cada mulher que se fizer seu(sua) seguidor(a), pois assim “está escrito” que seja, não por predestinação, não porque uma ou outra religião humana ou crença esotérica ou exotérica tenha assim predito, conforme o mito ou arquétipo (universal) do Messias em que se baseia, mas porque nós, seres humanos em trânsito da fase moral de provas e expiações terrenas e de outras dimensões de vida, estaremos nos encaminhando natural e espontaneamente para Ele, que tão clara, explícita e objetivamente explicou e exemplificou que assim fôssemos e fizéssemos. Dizia ele: Eu sou o caminho, a verdade, a vida; ou ainda: Ninguém vai ao Pai, senão por Mim...

E tão clara e explícita foi a sua lição, que nós, em nossa pobre humanidade, até agora, questionamos a sua efetiva validade, pois não conseguimos assimilar, porque rebuscados e complexos são os caminhos que a raça humana escolheu e escolhe. Uma mensagem divina, para nós, não poderia vir de uma simples manjedoura, sem atavios ou enfeites, cercada de animais domésticos e de gente empobrecida e sacrificada, pois um Ser Divino deve possuir o selo da excelência, nascer em berço de ouro, e, se nos tempos atuais, em apartamento de cobertura ou em condomínio fechado, de pais cujo status social lhe assegurasse o futuro, fácil de ser previsto, pois cercado de facilidades, pompa e circunstância. Uma mensagem divina, para ser “verdadeira”, jamais se cercaria de sacrifícios ao bem-estar próprio, à posição social, aos bens, à juventude, ao vigor da inteligência.

O flagício da cruz - em nosso entendimento - jamais seria o caminho para a implantação de uma nova idéia, ou de uma verdade. Pois os caminhos que traçamos para o estabelecimento de um novo paradigma perpassam pelos organismos internacionais, pelos conluios com as autoridades representativas do Estado e dos governos; pelas políticas, pelos cargos - necessários, em nosso entendimento, mas profundamente falhos em essência, pois não constituem verdades de razão - para que ela, a idéia, ou paradigma, se firme.

De nenhuma forma, jamais passaria pelo nosso pensamento, que o sacrifício implicasse em abandono de amigos e família, de despojamento de posição ou status social, de torturas morais e físicas inauditas, pois se Jesus era e é divino, grandiosos foram os seus sofrimentos (porém, não em nossa forma de pensar).

E como seria um Justo, um Messias, um Ser Divino? E como Ele viria até nós? E o que diria? Em parte já o dissemos, mas ainda assim nos sentaríamos em assembléia de doutos conselheiros para discutir se a sua Divindade é real ou fictícia, e talvez ficássemos anos e anos nessa discussão... E concluiríamos, finalmente, de que não há, absolutamente, provas que atestem a veracidade de sua identidade. Chamaríamos doutores de todas as especialidades para a discussão científico-filosófica ou filosófico-científica acrescidas das ponderações teológicas de tal ou qual religião através de seus magnos representantes. E sairíamos a apontar os detalhes de sua aparência, idade, status social e performance intelectual, analisaríamos as Suas palavras pela semântica, morfologia e sintaxe empregados, as suas expressões faciais e postura física, a qualidade das grifes com as quais - evidentemente - estaria trajado, as colocações mais acertadas e objetivas, a qualidade do vocabulário. Certamente, Ele teria que ser um doutor em várias especialidades, mormente em psicologia avançada, pois seria autor de um evangelho que, necessariamente traria receituários terapêuticos para a felicidade imediata, para o bem-estar moral e físico...

A Sua vinda teria que trazer toda a tecnologia avançada que se preze, e talvez, quem sabe, viria até nós, à semelhança dos antigos deuses da mitologia, que se exibiam aos olhos espantados da humanidade-infante, em carruagens de fogo, por entre relâmpagos e trovões. Mas talvez bastasse um veículo interplanetário com toda a tecnologia de ponta (desconhecida na Terra), esta sim, importante, para atestar a veracidade de sua Divina Identidade.

Certamente é de se esperar que Ele nos livrasse da violência de todas as formas hoje expressas, do ódio, da corrupção, da leviandade, do sofrimento, da fome ou dos excessos, das doenças crônicas e agudas, das epidemias e pandemias, das síndromes psicológicas, dos transtornos de comportamento, dos sentimentos torpes, da carência moral, espiritual e afetiva, da falta de assistência, de amizade, de amor, do vazio existencial imenso e terrível..., pois este é o papel do mito.

Contudo, Ele - o Ser Divino por excelência veio até nós, há 2007 anos, numa noite fria, em uma pobre manjedoura cercada do calor físico de animais domésticos, do amor de seus pais, do respeito dos pastores. Foi saudado por Reis, amado pelos bons, odiado pelos maus.

Personificando o Refúgio da Dor, ensinou-nos como combatê-la - ou melhor, compreendê-la. Amante da verdade, ensinou-nos como procurá-la - e encontrá-la; Caminho por entre as trevas, mantém ainda acesas as luzes da verdade divina para que possamos nos conduzir sem grandes tropeços. Revelou-nos o Pai de amor e misericórdia que nos criou e continua a velar por nós, filhos ingratos, rebeldes e malvados.

E porque desejasse que fossemos felizes, legou-nos uma herança - aliás, duas. Uma delas é o seu Evangelho, a outra é a promessa contida nele, de que estaria em espírito e verdade através do paracleto, em dias futuros, quando deixássemos a brutalidade dos instintos vigentes por sobre a inteligência e a afetividade, e quiséssemos alcançar o reino, por livre e expontânea vontade.

E há 150 anos, mais precisamente em abril de 1857, um simples professor - pois os grandes mestres e grandes missionários não trazem atrativos transitórios -, um pedagogo da alma e do espírito, burilado ele mesmo nas reencarnações de labor, renúncia e aflições, trabalha intensamente com os representantes do reino para implantar, em definitivo, o caminho, a verdade e a vida acrescidos de elementos conducentes ao entendimento do porquê devemos ser bons. E retira o seu nome, substituindo-o por um pseudônimo, para que não entendêssemos que ele detinha os direitos de autoria de um ensino eterno e sublime, mas do qual era apenas portador, organizador e trabalhador.

E porque é simples a sua mensagem - e a do paracleto, o Espiritismo -, e porque é através da humildade de princípios e da coragem de se superar; e porque o Seu fardo é leve, fácil de passar pela porta estreita, é que não aceitamos o jugo, suave por excelência, de Jesus.

E porque não aceitamos a humildade, a simplicidade; e porque teimamos em carregar o fardo da intolerância, da cupidez, do personalismo doentio, da agressividade contra tudo e contra todos, como um permanente estado íntimo de guerra, nos demoramos hoje no sofrimento profundo, violento, destruidor e destrutivo.

Quem sabe, um dia, festejaremos o verdadeiro Jesus desataviado das crenças mitológicas que teimam em permanecer vigentes em nossa forma de ser e estar na existência, e comemoraremos, subindo aos telhados, literal e abstratamente, e ergueremos as mãos para o alto, e assim - surpresa! - alçaremos vôo para encontrarmos a nossa própria divindade, transcendente e imanente, e nesse vôo sublime, nos encontraremos com Ele, Jesus, que, estará, apenas e tão somente, simples e amorosamente, feliz pelo reencontro pois, então, poderemos ser todos um só com o Pai.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA:
O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec; Boa Nova, Humberto de Campos e Francisco Cândido Xavier

OS CAMINHOS DA FÉ ATRAVÉS DA RAZÃO II

Nessa infinita jornada, Fé e Razão ora se mesclam, ora se afastam, buscando cada qual o seu caminho, até se encontrarem nas mentes e corações humanos, uma vez que de forma conceitual jamais se distanciaram mutuamente, pois que resultantes de uma mesma construção evolutiva. Fé, candeeiro de luz a iluminar a Razão, bússola infalível a conduzir o pensamento às alturas de seu próprio conhecimento e do universo que o circunda. Fé, portanto, transcende o aqui-agora, alça vôo fulgurante em busca do Mais Alto, pois para lá nos destinamos. Razão, ponto de equilíbrio a sinalizar a perfeita sintonia com a Consciência Cósmica. E quando lá chegarmos, habitantes de mundos mais felizes (diga-se de realizações existenciais), olharemos os mundos mais atrasados como estâncias infinitamente pequenas diante da eternidade que nos aguarda, estágios de dor e testes necessários ao aprendizado do Espírito rebelde e egocentrado, incapaz de sentir o outro como irmão, uma vez ambos criados à semelhança divina.

E porque Fé e Razão viajaram separadas ao longo do tempo? A Fé foi construída sobre o pedestal das religiões míticas e místicas criadas pela superstição humana. A Razão isolou-se no sectarismo das introvertidas Filosofias e Ciências tradicionais, submetidas ao academicismo estanque. Apartadas pelas mãos humanas, inevitavelmente teriam que enfrentar-se, de forma litigiosa, num futuro em que o ser humano soubesse discernir e escolher por meio de seu livre-arbítrio. E é nesse momento, em que a Razão, ensoberbecida pelo saber acumulado, e em que a Fé jazia glamorosa nos ricos altares construídos em sua homenagem, gerando a opressão e a descrença, o isolamento e a arrogância, únicos caminhos em que se encontravam, pois gerados pelo próprio homem que as desunira, é que surge à frente, através dos mesmos instrumentos utilizados para afastá-las, ou seja, a perquirição filosófica e os experimentos científicos, a doutrina de Luz, no país que outrora abrigara as Luzes.

A verdadeira e única Razão - como legítimo suporte ao Saber transcendente - que lutara por libertar-se em terras francesas, insurgente aos ditames da nobreza decadente e do clero vicioso, embora ainda vestida de aparências. Apesar das conseqüências deste ato histórico, Ilumina a Fé enclausurada, e ambas caminham trôpegas, até o momento em que os grandes detentores da Esperança chegam até à humanidade cansada e descrente, trazendo-lhes a Boa Nova renovada. E do país da Razão, transporta-se para o país da Fé, o Brasil, como a dizer-lhe que a verdadeira fé seria aquela que buscasse respaldo na reflexão, no raciocínio, na consciência ampliada pelo estudo contínuo, mas igualmente pelo exercício do Amor fraterno.
Não cabe aqui nenhuma crítica desairosa aos caminhos traçados pela Fé e pela Razão humanas, diligenciando encontrar o pleno Conhecer. Foram momentos necessários até a madureza do Espírito, até que este tivesse condições de ver, ouvir e sentir a realidade que o circunda, e que jaz oculta nele próprio.
Porém, vez por outra, como ainda nos demoramos na adolescência espiritual, a tentação de nutrir a Razão com o orgulho, à semelhança dos antigos detentores do saber, não obstante as orientações seguras dos Espíritos superiores em experiência e consciência, e a Fé com o despotismo farisaico-religioso de outros tempos, carregando em seu bojo hábitos e costumes ligados à ortodoxia vazia, a Doutrina de Luz recebe também em nossos dias inserções indevidas, conclusões apressadas, posto que o homem, herdeiro de si mesmo e ainda habitando um plano mental onde a dualidade se expressa de forma contundente, ora conduzindo-o ao Bem de si mesmo, e, portanto, do seu próximo, ora ao Ego inseguro e irrenovado, impelindo-o atavicamente ao seu próprio primitivismo, nutrindo-o de emoções não trabalhadas, já que não trazidas à própria reflexão, ainda não conscientizou-se de que o Espiritismo é, a bem da verdade, a oportunidade sublime que o conduzirá a planos mais elevados da existência.
Portanto, prescinde da bagagem acumulada nos exercícios reflexivos das academias. Estes são como rascunhos que servem como ensaios ao Verdadeiro texto, ou desenhos, como moldes à Verdadeira escultura, ou ainda esboços que servirão ao desenvolvimento da Verdadeira partitura, todos aspirando aos originais efetivos e realizadores.
O Espiritismo, síntese disto tudo, permanece aguardando que as nossas vivências impactantes despertem-nos de nossa própria letargia, ou nos situe responsavelmente no contexto universal. Fé e Razão, Luz e Bússola, são manifestas em todo o composto doutrinário. Em O Livro dos Espíritos, como livro-chave, os caminhos para o desdobramento dos demais livros estão indicados, e como tal, foram produzidos através da reflexão de um Ser em si mesmo realizado, Kardec, pela inspiração e mestria dos Espíritos Condutores desta humanidade.

Ali estão os indicativos para a continuidade da obra: em O Livro dos Médiuns, a seriedade dos mecanismos de pesquisa dispostos ao pesquisador consciente e despojado. Tal como Kepler, reconhecendo a Verdade acima de quaisquer opiniões científicas pessoais, pois o Saber não tem dono. Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, a ética cósmica de Jesus, despojada das crenças, e das intensas manobras por minimizá-la ao usufruto dos hábitos igrejeiros, conduz, hoje, o ser humano a viver eticamente, em qualquer ramo de atuação onde a sua existência se dê, preservando-o e conduzindo-o ao exercício de sentimentos e atitudes dignas com relação a si próprio e ao outro. Ética vem acompanhada de amor, de firmeza e constância no Bem. Sem hesitação, nem omissão.
Em A Gênese, a grande Luz se transforma na Lógica da Criação. E podemos então acessar a Harmonia e o Equilíbrio latentes na Natureza, aguardando serem descobertas sem convencionalismos delituosos.
Em Obras Póstumas, o labor operoso do trabalhador que, acima de tudo, soube respeitar e preservar as informações recebidas de outra dimensão, a das Luzes, e que intuitivamente sabia serem condutoras para a fase final da formação do caráter humano, disperso em si mesmo, preso às falácias, gerando sofrimento atrás de sofrimento, ignorante de como atuam as leis divinas, ao mesmo tempo vítima e algoz.
Portanto, a fé espírita, como um grão de mostarda, contém a potência da criação em si mesma; a razão espírita também carrega consigo a convicção, a firmeza de propósitos que a conduz, quando amparada pelo amor, à plenitude, tal como Jesus.

Vede Jesus - dizem os Espíritos. Ele é nosso modelo. Enquanto não acreditarmos, porquanto não portando a fé raciocinada, que tal seja, estaremos ou permaneceremos ostensivamente envoltos na soberba de nossa imensa ignorância, sofrendo-lhe inapelavelmente as consequências.

OS CAMINHOS DA FÉ ATRAVÉS DA RAZÃO I

No capítulo dezenove de O Evangelho Segundo o Espiritismo encontramos a matéria "A fé que transporta montanhas". Bem conhecido dos espíritas, o tema inicia com um trecho do evangelista Mateus 17:14-19, relatando episódio em que Jesus, após realizar a cura do rapaz obsedado, questiona veementemente seus discípulos, que, alegando impedimentos, não o puderam curar. Jesus revela-lhes que a cura do jovem não ocorrera, devido a pouca fé de seus próprios seguidores, pois "se tivessem fé como um grão de mostarda", nenhum obstáculo lhes impediria a ação. Ou seja, se a fé fosse mensurável, por menor que fosse, ela teria a mesma força, em potência, contida numa semente. O mesmo ímpeto em latência, que impulsiona a semente em transformação. Jesus, como sábio conhecedor das incertezas humanas, faz uso de uma figura forte, e o que teria maior robustez, vigor, energia do que uma semente que contém a vida em desenvolvimento?

Ele também diz que "a montanha seria transportada" apenas pelas palavras daquele que tem fé. Aliada desta última, a palavra bem direcionada, confere real autoridade a quem a profere. A palavra é dotada de uma mística especial, pois decodifica o pensamento, transportando-o do abstrato mundo das idéias ao concreto mundo sensível, onde transitamos confinados a apenas cinco sentidos que nos possibilitam a comum relação, caracteristicamente limitada, por vezes falha, pois segue padrões de percepção adstritas às assimilações de tempo e lugar, às peculiaridades culturais, hábitos familiares e individuais, e padrões evolutivos espirituais. Donde concluirmos que a real comunicação entre os seres ainda não aconteceu. Poderíamos concluir também que a comunicação efetiva dar-se-á ao nível de um sentimento apurado, pois real, verdadeiro, cultivado como a semente de mostarda, ou como o carvão que se transforma em diamante, luzindo e trazendo à tona o Amor subjacente, a Verdade que jaz do lado externo da caverna de Platão, ou do oceano intérmino e rico em vida e beleza, revelado pelo peixinho vermelho da lenda egípcia divulgada por André Luiz na introdução de "Libertação". Sem dúvida que a palavra perderá seu lugar, pois será condignamente ocupado por um estilo de comunicação, onde o pensamento burilado no campo das formas adquiriu sua liberdade legítima, onde os estímulos da dor expandiram-no, até à compreensão plena da verdadeira ética resultante do exercício da solidariedade, onde a moral enriquecida pelo sentimento de mútua compreensão e entendimento fazem-no - o pensamento - construtor de sua verdadeira identidade, outrora obscurecida pela rudeza de seu primitivismo, no futuro, porém, ampliando-se, transfigurando-se como a lagarta em borboleta, ornando-se com as luzes características de quem já conseguiu Ser, após a jornada milenar do estar e do acontecer sucessivos, sujeito ao determinismo natural, nem sempre consciente dos estágios em que se fixaram. Então, finalmente entenderemos Jesus.
Porém, até que tal ocorra, a fé, grande estímulo das relações entre o ser-criatura e o Ser-Criador prosseguirá sua jornada histórica, habitando corações numa multiplicidade tão grande de expressões, refletindo as culturas onde se desenvolvem. Podemos analisá-las todas, porém nunca senti-las em sua plenitude. De tão ampla, foge à análise puramente científica, inabordável ao exercício das ciências exatas.
O pensamento espírita, com bases racionais, evoluiu desde a Magna Grécia, encontrou-se com Jesus em Israel e deslocou-se diretamente para a França, berço da cultura racional, livre da teologia asfixiante, traçando-lhe os rumos, despido de dogmatismos filosóficos, científicos e religiosos. Hoje, a ciência humana busca entender o que, para a ciência espírita já foi desvendado: A EXISTÊNCIA DO ESPÍRITO, EM SUA TRAJETÓRIA NA LINHA DO TEMPO, em busca de sua própria transcendência (Tendes um modelo, diz O Livro dos Espíritos, VIDE JESUS). (continua)

QUESTÕES EXISTENCIAIS SEM ESPÍRITO DE SISTEMA

á exatos 145 anos Allan Kardec presenteava-nos com a obra O CÉU E O INFERNO , preparando o terreno que as idéias niilistas e positivistas surgidas na segunda metade do século XIX, tentariam semear com o joio adubado pela ausência de sentimentos nobres amadurecidos na meditação, na circunspecção e no desprendimento, tão necessários a quem se propõe a lançar no mundo idéias, comportamentos, escolas de pensamento, teorias filosóficas. Emmanuel, numa feliz interpretação dessas iniciativas egocentradas, diz: "O procedimento dos homens cultos para com o povo experimentará elevação crescente à medida que o Evangelho se estenda nos corações. Infelizmente, até agora, raramente a multidão tem encontrado o tratamento a que faz jus." . De fato, a própria condição de imperfectibilidade da espécie humana atesta que são raríssimos os exemplos a serem seguidos. E, se analisarmos com espírito livre de preconceitos e rotulagens,veremos que a representação do bem real na Terra sempre foi antecedida pela humildade, nela convivendo e dela extraindo os frutos mais substanciosos, que por sua vez fecundariam outros terrenos, em outras partes do mundo. Exemplos inúmeros, centenas e milhares, em todas as épocas, em todos os lugares, inseridos nos contextos culturais diversificados, como pequenas luzes projetadas na massa escura do planeta em constante transição.

Os Amigos da Humanidade em conflito representam em si mesmos a mensagem de que são portadores. Anônimos, nascem em berços obscuros, enobrecendo a família em meio à qual foram chamados a conviver, estudam muito e disciplinadamente, dignificando o conhecimento (não a vazia intelectualidade), trabalham condignamente, exemplificando a disciplina espontânea e a dedicação consciente. Se são portadores de competências, exaltam-nas, exemplificando nas diversas atividades que abraçam, a missão do homem inteligente sobre a Terra. Jamais obstaculam o caminho de outras competências, ao contrário, irmanam-se a elas, indicando rotas, ampliando a capacidade de abrangência de suas idéias avançadas no tempo e no espaço. Se, por necessidade das convenções terrenas portam titulações acadêmicas, cargos, posições sociais, estes acabam por desaparecer perante os sentimentos e as atitudes condignas. Exercitam o desapego aos bens da Terra, utilizando-os para o bem comum. Valorizam a si mesmos na medida em que vivenciam a mensagem apregoada.

No caminho inverso, o apego aos mesmos títulos e cargos, circunstâncias efêmeras e aplausos de momento, demonstram igualmente a exata proporção de necessidades afetivas aos quais se apegam fervorosamente, como se o aplauso da multidão tivesse a mesma força das realizações que dizem representar. Assim, satisfazem-se no abandono do exemplo edificante. "Auxiliar a todos para que todos se beneficiem e se elevem, tanto quanto nós desejamos melhoria e prosperidade para nós mesmos, constitui para nós a felicidade real e indiscutível", assevera Emmanuel na mesma citada mensagem.
Em "O Céu e o Inferno", as questões existenciais tomam outro formato, despojam-se do aparato das escolas filosóficas vazias e inócuas, tanto ou mais quanto a vacuidade dos corações que as criaram. Auxilia-nos a diferenciar o misticismo supersticioso da mística natural, os conceitos mitológicos de penalidade e recompensa a viciarem as mentes juvenis, ansiosas pelas compensações terrenas, à semelhança dos aplausos. Remete-nos às reflexões quanto a vida e a morte, despojando-nos do medo e da angústia do sofrer existencial, incentivando-nos a ser, e não somente a estar, pois "a cada um será dado conforme as suas obras". Trata-se portanto, não dos gozos ou penalidades da vida futura, à interpretação humana, mas da natural conseqüência de pensamentos e atos bem ou mal engendrados.
Situa-nos na escala ascencional de nossos sentimentos a alçarem vôo em direção à esferas onde os Espíritos transitam em meio ao que condicionamos chamar por "felicidade", por falta de melhor definição, pois o nosso mundo consciencial desconhece tais venturas. E para atestar tais assertivas, Kardec à semelhança da maiêutica socratiana, questiona, interroga, indaga e entrevista os Espíritos em suas diversas circunstâncias existenciais no mundo incorpóreo, como a atestar da exata dimensão propiciada pelas escolhas voluntárias de cada um. Sem rebuscamentos, sem máscaras, sem rótulos. Sem sistemas.

Somos o que somos. E hoje, quando o ser humano em guerra contra o outro ser humano anula os mínimos gestos de solidariedade, em que o ego transforma-se em tirano do Espírito, em que a educação e as boas maneiras (não confundamos com mise-en-scène) cedem lugar à rudeza e à agressividade sem controle, os grandes dramas ocupam novamente o palco da tragédia humana. Serão eles os grandes instrumentos sempre renovados do despertamento. Incentivarão a fraternidade, acolherão em seus braços suas vítimas perplexas. E remeterão esses corações à reflexão. E da reflexão, à realidade. E desta, à humildade.

E então entenderemos os propósitos de Deus a nosso respeito. Deixaremos as filosofias esdrúxulas, as religiões fanatizantes, as ciências dogmáticas. E estaremos prontos para o pensar renovado, para o agir dignificante e plenificador.

Bibliografia: O Céu e o Inferno, de Allan Kardec ; Fonte Viva (104-Diante da Multidão), de Emmanuel/Chico Xavier.

TRANSIÇÃO

Em alguns momentos, ao longo de nossa existência, passamos por fases que poderíamos caracterizar como sendo de transição. É assim da infância à adolescência, desta à idade adulta até a maturidade e à velhice do corpo. Neste processo, absolutamente natural e hoje motivo de estudos da medicina e da psicologia, o que nos coloca a par de como lidar com ele a fim de evitarmos o mais possível impactar nossos Espíritos, mas pelo contrário, aproveitar esses momentos para amadurecermos existencialmente, é que nos vem à lembrança, como uma analogia, que o mesmo processo se dá com as religiões. Mas por que não dissemos "revelações" e sim religiões?

Simplesmente porque as religiões, no seu desenvolvimento histórico, antropológico, social, são obra do ser humano, não da divindade. A ESSÊNCIA DAS RELIGIÕES, ou seja, as REVELAÇÕES, trazidas à Terra por missionários do Bem, através do intercâmbio mediúnico sadio e equilibrado, surgem no momento adequado à assimilação humana e como resultado do progresso alcançado. Ela, a revelação, propicia a UNIDADE DE PENSAMENTO e o SENTIMENTO DE RELIGIOSIDADE, na busca natural do ser humano por sua própria transcendência. Contudo, a religião, ressalvada a sua importante função educacional e legítima às populações ainda imberbes no entendimento da relação Criador-criatura-criação, separou Deus do ser humano, pois o localizou fora de si mesmo, num céu paradigmático, longínquo, inacessível, tão distante que não há como acessá-lo, senão por seus eleitos, igualmente inatingíveis e dotados de uma especificidade também inalcançável ao comum dos mortais.

Onde está Deus? Olhamos para cima e dizemos, no céu. Onde está o Universo? Fora da Terra, é o que todos dizem, inclusive a ciência humana. E a Natureza? Lá fora. Este simples gesto, de afastamento físico e psíquico, de Deus, Universo, Natureza fez do ser humano, marginal em sua própria humanidade. E arcamos com as conseqüências desse processo, hoje, século 21, num mundo violento, impassível diante da dor banalizada, tão distante de Deus que simplesmente esquecemos o significado da palavra "semelhante", pois as relações humanas são fundamentadas nos interesses pessoais e personalistas, no utilitarismo, no usufruto imediato ou no lucro que o outro possa nos acarretar.

Conseqüências: 1) fragmentação social galopante, originando preconceitos de raça, de status social, de idade, de religião, de maneira de ser, de falar, de vestir, de estar;
2) distanciamento de virtudes, valores, que, se bem apregoados pelas religiões fundadas por sobre as revelações e pelas doutrinas filosóficas, hoje são considerados “coisa do passado”; 3) adesão ao aborto, à eutanásia, à pena de morte como “soluções” imediatas a “problemas” que não conseguimos resolver; 4) mudanças comportamentais sem estabilidade na “rocha sólida”, como na alegoria de Jesus, e desprovidas de conteúdo existencial, a bel-prazer dos meios de comunicação descompromissados com a Verdade e com o bem-estar moral das sociedades; 5) agressões conscientes e inconscientes à fauna e à flora, com o propósito de exploração e até sem propósito algum; e finalmente, 6) reflexos psíquicos e comportamentais destoantes, violentos, geradores de síndromes, carências afetivas, descontroles emocionais, de exclusão, e como se diz popularmente, da sensação de estar “sem chão”.

Como exemplo, vamos observar alguns fatos ocorridos nestas últimas semanas. Vimos pela televisão a agonia, o calvário e a morte do representante de uma igreja, seu velório, com a presença de chefes de estado, monarquias e representações diplomáticas, um público estimado em quatro a cinco milhões de pessoas (sem citar a cobertura da mídia), enterro, o período de incubação da idéia de um novo sumo pontífice e finalmente o tão esperado "habemus papam", pronunciado e recebido com alívio pelos fiéis do mundo inteiro, e no Brasil, maior país católico do mundo. A missa em homenagem ao novo Papa, realizada na Catedral de São Paulo, contou com a realização de uma irmandade, ritualisticamente remetendo-nos à lembrança os antigos Templários. O ritual da missa, cada vez mais cercado de um aparato visual extremamente bem elaborado, com o acréscimo de peças de música orquestrada e coral, segue a pompa e circunstância que o momento merece. A circulação dos padres e auxiliares numa performance de palco disciplinada e muito bem encenada. A figura do pontífice máximo ainda segue o mesmo indicativo de legítimo representante de Jesus ou Deus sobre a Terra. Ao longo de dois dias, os fiéis buscaram, ansiosos, o livramento dos pecados através da confissão não mais auricular, agora frente a frente com o padre. O mesmo acontece com as outras vertentes da mesma igreja, priorizando a encenação espetacular e tocando nas necessidades fundamentais da criatura humana, como meio de atrair as massas.

Também observamos cotidianamente o desenvolvimento das igrejas pentecostais e missionárias, todas amplamente freqüentadas pelo grande público, em edifícios imensos e estrategicamente decorados, buscando atender as necessidades e carências imediatas desse público, utilizando o aparato publicitário que enfatiza o milagre como força atrativa e realizadora na vida do indivíduo, para que este se livre da falta de dinheiro, do desemprego, das carências, do equívoco nas relações humanas. Emblemático o apelo ao livramento dos "encostos", à busca da curas das enfermidades, ao encontro pessoal com Jesus, filho unigênito de Deus, que os livrará da sanha do demônio, os grandes encontros coletivos promocionais em clima de festa.

E poderíamos também analisar outras manifestações religiosas ocidentais - todas com enfoque eminentemente social e/ou terapêutico, dito auto-ajuda, sem citar as ideológico-políticas assumidamente praticado por todas elas, deixando a relação com Deus em segundo plano sob os cantos e as músicas frenéticas, crises de mediunismo, ou ainda focando-a numa relação aberta de barganha. Sem mencionar as orientais ortodoxas ou extremistas, onde a auto-flagelação é a marca dos iniciados e escolhidos pela divindade. Sinal dos tempos? Ou perpetuação de hábitos de tempos longínquos, onde a relação Criador-criatura se realizava mediante sacrifícios ?

Voltando às consequências, poderíamos refletir que: 1) na verdade, sempre fomos violentos - diga-se de passagem que, se somos uma sociedade terrena em situação moral e espiritual de provas e expiações, conclui-se que já fomos primitivos, portanto, muito mais violentos que agora; 2) é verdade que hoje, ela, a violência é muito mais impactante, pois somos, sabidamente uma sociedade que já realizou progressos fantásticos em todas as abordagens da vida humana; 3) contudo, a própria situação evolutiva nos situa em progresso contínuo, portanto desprovida ainda de valores e virtudes a serem exercidos, e que AINDA NÃO NOS DEMOS CONTA DE QUE SOMOS PORTADORES; 4) as religiões facultam esse processo de auto-descoberta, mas estão impossibilitadas de desenvolvê-lo, pois o enfoque relação Criador - criatura perdeu-se no emaranhado de manifestações exteriores, de fora para dentro, impactantes aos sentidos humanos, porém vazios de apelos ao crescimento interior.
Neste processo, a religiosidade embasada no CONHECIMENTO ESPÍRITA nos trará:

1) DISCERNIMENTOdo que seja religião dos homens e sentimento religioso com Deus, o máximo desprovido de rituais e de apegos, como festas religiosas, comemorativas, etc., RECONHECENDO JESUS, como CAMINHO VERDADEIRO, pois ELE PRÓPRIO O PERCORREU não, contudo, no âmbito da Terra (VEJA-SE ITEM 100 de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, Escala Espírita), como VERDADE PURA, pois ele a traz em si mesmo, em forma de sabedoria, e VIDA, sob a condução do AMOR PLENO, pois se reconhece em DEUS e UNO À CRIAÇÃO DIVINA;

2) INDEPENDÊNCIA de uma representatividade meramente humana calcada no imediatismo, e até da idéia atribuída aos missionários, equivocadamente adorados e louvados como deuses do panteão mitológico, "intercessores necessários" entre Deus e humanidade, retirados de seus papéis de exemplo seguro, pois para isso vieram até nós;

3) MATURIDADE psíquica, manifestada através da relação harmoniosa entre a trilogia (no verdadeiro sentido semântico) Criador-criatura-criação, pois embasada no profundo respeito do segundo elemento pelo terceiro, DO QUAL FAZ PARTE, em união contínua com DEUS, PRESENTE NO PRÓPRIO SER HUMANO.

A RELIGIÃO ESPÍRITA, se assim podemos chamar, JAMAIS terá cunho SOCIAL e/ou TERAPÊUTICO, OU AUTO-AJUDA (sequer mencionadas as dependentes de rituais flageladores, por motivos óbvios), pois IDENTIFICA-SE COM O PRÓPRIO SER E NUNCA FORA DELE. NUNCA TERÁ REPRESENTANTES, mas sim, PARTÍCIPES, pois a comunhão com o divino em nós, nos situa no mesmo patamar de igualdade ético-moral.
Quando a caminho desta integração, jamais, portanto, serviremos de obstáculo ao desenvolvimento e progresso de nosso semelhante, atribuindo-nos direitos vaidosos, egocêntricos e calcados numa necessidade patológica de idolatria exterior.

Até lá, andaremos "crucificados" na cruz da existência, chorando pelos mortos que, na verdade continuam vivos; auto-flagelando-nos aos vícios de toda a sorte, pois não há esperança nem consolação; distantes da realidade espiritual, petrificados pelo medo ao mal agressivo e invisível que nos circunda pois, se não criação de nossa mente em desequilíbrio, como na alegoria de O Senhor dos Anéis, são resultantes da nossa omissão como cidadãos.
Continuaremos dilapidando os bens legítimos da Vida em nós e na Criação, sentido-nos à parte dela ou como seus conquistadores, culpados ou vítimas e não responsáveis que somos pelos próprios atos, os quais cabe-nos modificar para o Bem.

Neste aspecto a Parábola dos Talentos de Jesus situa-nos integralmente na linha da existência, com a segurança de quem é portador dos bens legítimos da Vida, com livre-arbítrio de utilizá-los para o próprio progresso, em busca da felicidade, pois para ela fomos criados.

Bibliografia recomendada: Allan Kardec: O Livro dos Espíritos, Céu e Inferno; José Herculano Pires: Concepção existencial de Deus, O Espírito e o Tempo, Agonia das Religiões, Revisão do Cristianismo; Léon Denis: O Problema do Ser, do Destino e da Dor; Vianna de Carvalho/D.Franco, Atualidade do Pensamento Espírita.

EM LOUVOR À AMIZADE

Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos - vós sois meus amigos, se praticais o que ensino, porque tudo o que ouvi do Pai eu vos dei a conhecer. Este é o meu preceito: amai-vos uns aos outros como eu vos amei. (João,15:12-15)

Hoje, muito mais que importante, é imprescindível refletirmos nas palavras de Jesus, quando destaca e exalta o sentimento fraterno, elevando-o à categoria da Amizade, como o mais alto galardão daquele que doa o melhor de si àquele a quem chama de irmão - ou irmã. O Mestre viveu com tanto empenho este sentimento, que, ao despedir-se da humanidade tratou-nos como crianças rebeldes ainda em crescimento, como um irmão mais velho faria, sem reprimendas, apenas revelando-nos a Paternidade comum, dando-nos por Mãe aquela que o materializara entre nós, num respeito profundo à nossa natureza, ainda dependente dos símbolos e dos arquétipos individuais e coletivos. Ele iria, mas deixaria conosco a sua imensa afeição. Pelos homens e pelas mulheres, fez tudo o que era possível em renúncia e dedicação. Diz Emmanuel : “seus atos foram celebrados em assembléias de confraternização e de amor. A primeira manifestação de seu apostolado verificou-se na festa jubilosa de um lar”. Aceitava os publicanos, os avaros, as mulheres e os homens equivocados. “Era amigo fiel dos necessitados que se socorriam de suas virtudes. Através de seus ensinos, notava-se-lhe o esforço para ser entendido em sua infinita capacidade de amar. A última ceia representa uma paisagem de afetividade integral. Lava os pés aos discípulos, ora pela felicidade de cada um”.

E como se não bastasse, despede-se de seus apóstolos, a quem chamara de Amigos, recomendando-lhes que se amassem uns aos outros, como Ele os amara. Enfatiza a união, o respeito que deve prevalecer entre aqueles que verdadeiramente seguem suas lições. Convida a que caminhem o Seu Caminho, amem a Verdade, e aprendam com a Sua Vida.

Tão importante é a Amizade, que o significado essencial da expressão filósofo é Amigo do Saber. Donde poderíamos refletir que o reto pensar, o filosofar na essência, como queria Sócrates, conduz ao pleno exercício desse sentimento. Sócrates refere-se ainda à Justiça, e alguns anos mais tarde, Aristóteles harmonizaria essa idéia, atribuindo à verdadeira amizade o fato dela ser exercida com justiça e bondade. Não há por isso qualquer contradição em ver na amizade um comportamento eminentemente dirigido para o outro, um momento essencial da vida feliz, que implica reconhecimento, colocando os parceiros da amizade como dignos de si mesmos, no esforço supremo de contemplar o divino que está em nós e fora de nós.

Nos jogos olímpicos de Barcelona, ela foi o tema principal (Amigos para Sempre) que nortearia os passos daqueles que estariam em busca de medalhas, como a lembrá-los que o importante no esporte, como na existência, não é a disputa, que pode levar à distorção da idéia de competir, conduzindo-os ao jogo perigoso do doping, mas à convivência e à auto-superação, ou seja, dar o melhor em prol de si mesmo e da equipe. Nas Olimpíadas e nas Para-Olimpíadas de Atenas, os esportes compartilhados, que facultam a necessária e salutar dependência uns dos outros, mostraram, entre os brasileiros, esse sentimento de integração, que fez nossos jovens, envolvidos na bandeira do Brasil, abraçarem-se, chorarem juntos de emoção, de profundo respeito e amor à união, ao esforço conjunto. Destaque para o gesto de um deles, ao doar, mesmo que simbolicamente, a sua medalha de ouro ao atleta constrangido, obscuramente e pela força, a abandonar o primeiro lugar do pódium da Maratona grega. Houve, naquele instante, embora curto, um grande gesto de sublimação - e o respeito ao esportista transformou-se num imenso gesto de Amizade. Eternizou-se em ambos, em seus próprios corações, e nos daqueles que os assistiam, muito mais do que o ouro perecível da medalha, o valor da afeição, do respeito ao talento do outro. Analogamente, palavras de um jogador de volei: “quando não estava na equipe jogando, estava por perto, ajudando, colaborando com todos, porque quando um ganha, ganhamos em conjunto, mas quando um só perde, toda a equipe perde também”.

Vivemos hoje, momentos de intensa dramaticidade; ao lado de gestos como este, de jovens que mostram seus valores, o amor à causa que abraçam - o esporte, às suas famílias, à sua equipe, ao seu país, vemos também famílias consumidas pela dor e pelas perdas, jovens ainda distantes de oportunidades de estudo, trabalho e lazer, distantes da espiritualidade sadia. Assistimos - e participamos - da Grande Transição, que manifesta no mundo toda a sua força, todo o seu empenho em demonstrar aos seres humanos que o Verdadeiro Caminho continua ali, à nossa espera, pleno de Vida e Verdade. Muitos já fizeram sua escolha, fruto de uma época que estertora, que envilece os incautos, que solapa as boas intenções, que ironiza a bondade, traçando trajetórias de lágrimas e aflições no planeta de expiações e provas. Geração dessa Grande Transição, somos espectadores da dor alheia, mas, vez por outra ela se aproxima, mais de perto, de cada um de nós, como um convite a que não nos tornemos insensíveis, que a olhemos de frente, como um convite à reflexão. Reflexão proporcionada por Jesus, quando convidou-nos a repartir, a participar, a distribuir, a sentirmos compaixão, a exercermos o perdão, a indulgência, a paciência, a tolerância, o entendimento. A sermos amigos uns dos outros.

E não foi diferente, quando os corações que trabalham junto à diplomacia mundial, na virada do milênio, instituíram, através da UNESCO, a Década da Cultura de Paz cujos princípios norteiam-se por:

* Respeitar a Vida. Respeitar a vida e a dignidade de cada ser humano sem discriminação nem preconceito.

* Rejeitar a Violência. Praticar a não-violência ativa, rejeitando a violência em todas as suas formas: física, sexual, psicológica, econômica e social, em particular contra os desprovidos e os mais vulneráveis, como as crianças e os adolescentes.

* Ser Generoso. Compartilhar o tempo e os recursos materiais no cultivo da generosidade e pôr um fim à exclusão, à injustiça e à opressão política e econômica.

* Ouvir para Compreender. Defender a liberdade de expressão e a diversidade cultural, privilegiando sempre o diálogo sem ceder ao fanatismo, à difamação e à rejeição.

* Preservar o Planeta. Promover o consumo responsável, e um modo de desenvolvimento que respeitem todas as formas de vida e preservem o equilíbrio dos recursos naturais do planeta.


* Redescobrir a Solidariedade. Contribuir para o desenvolvimento das comunidades, com plena participação das mulheres e o respeito aos princípios democráticos, de modo a criar novas formas de solidariedade.


Parafraseando Gandhi, “acredito na essencial unidade do ser humano, e portanto na unidade de tudo o que vive. Desse modo, se um homem progredir espiritualmente, o mundo inteiro progride com ele, e se um homem cai, o mundo inteiro cai em igual medida”, vemos que, não obstante as lutas fratricidas e a violência brutal corrente no mundo, já previstos desde Bezerra de Menezes na Câmara de Deputados do Rio de Janeiro em fins do século 19, com relação aos morros cariocas, de que poderiam no futuro abrigar a intolerância, a agressão e o desvalimento, o abandono social, até nos dias atuais com o pensador Hans Magnus Enzensberger, em sua primorosa e crua análise das relações político-sociais e exclusão, GUERRA CIVIL quando igualmente localiza a essência do terrorismo na ausência de interesse real das criaturas humanas, umas pelas outras. Poderíamos complementar, na ausência de afeto. Mas dizíamos, não obstante tudo isso, vemos sinais contundentes de um desejo profundo pela Harmonia nas relações humanas, o que poderia levar a um sentimento mais elaborado do que a própria tolerância, e ensinada há 2.000 anos com Jesus: amar ao próximo como a si mesmo. Temos dado voltas e voltas, sem compreender a profundidade destas palavras - e chegamos aqui, carecentes de luz e de confiança uns nos outros. E de tal forma isto criou raízes, que no próprio Movimento Espírita vemos dissensões, lutas por cargos e destaques nas entidades, sentimentos de desvalia e atitudes antiéticas.

Em diferentes épocas e em diversos pontos do globo, grandes educadores, Amigos da Humanidade aqui aportam. As suas missões diferentes concorrem para um fim comum, e provam que em certas épocas uma mesma corrente espiritual atravessa o planeta, como a lembrar-nos, através de suas lições, que o nosso dever é o de compreender, aceitar, ajudar e não a pensar e agir de forma excludente.

Há 200 anos um dos Amigos da Humanidade esteve entre nós - professor Rivail, Allan Kardec, com seu profundo sentimento fraterno aos homens e mulheres da Terra, trouxe-nos o seu exemplo de trabalho, de perseverança, de comportamento diante de uma Causa, legando-a às gerações do futuro. E deu-nos uma senha, uma password para que nos reconhecêssemos instantaneamente: a prática da Caridade, o exercício da Amizade Fraterna, que não conhece tempo ou lugar, credo ou religião, raça ou costumes. E pregou o Caráter Universal dos Princípios do Espiritismo, que vimos hoje nortear o pensamento de milhares de pessoas, desde os mais humildes, em terras distantes, até as ONGs de preservação da Vida, aos Pacificadores como o nosso Sergio Vieira de Mello, as equipes que elaboram as normas de bem viver da Humanidade na ONU e outros órgãos de caráter mundial, seja no ramo da ciência, da filosofia ou da moral. E da ética.

Lembramo-nos de Kardec, de Denis, bem como Francisco, o Amigo de Assis, que chamou a si próprio de Irmão da Natureza, divinizando-a, sancionando e enaltecendo as lições de Jesus em seu grande coração, tornando-se Instrumento da Paz.

Belíssima a passagem em O Livro dos Espíritos sobre a missão dos anjos guardiões: “há uma doutrina que deveria converter os mais incrédulos, por seu encanto e doçura, a dos anjos da guarda. Pensar que tendes sempre a vosso lado seres que vos são superiores, que estão sempre ali para vos aconselhar, vos sustentar, vos ajudar a escalar a montanha escarpada do bem, que são AMIGOS (o grifo é nosso) mais firmes e mais devotados que as mais íntimas ligações que se possam contrair na Terra, não é essa uma idéia bastante consoladora?” E, como num convite à ágape (em grego, amor desinteressado ao próximo) e ao exercício da philia (grego, sinônimo de amor fraterno, amizade), dizem São Luís e Santo Agostinho: “Não temais fatigar-nos com as vossas perguntas, permanecei, pelo contrário, sempre em contato conosco; sereis então mais fortes e mais felizes”.

E como seria ela, afinal? Poderíamos dizer que a amizade não é projeção do próprio ego, nem paixão, ou sequer sentimento de posse. A amizade pode começar de um sorriso, de um aperto de mãos, de uma palavra auspiciosa, de um simples gesto que exprima simpatia ou empatia. O amigo ( ou a amiga) é um ser especial. Não vê nossas carências, e se as vê, credita-as a um pequeno instante de esquecimento, a uma falha momentânea, embora o verdadeiro amigo seja aquele que nos aponta defeitos, mas também nos indica as virtudes. Tem a coragem de ver nossas qualidades e potencialidades e nos impulsiona para frente, como a dizer, é por esse caminho, vá em frente que eu estou com você!

Ter (ou ser) um amigo (ou amiga), é possuir (ou dar) um tesouro de valor incalculável, não mensurável, no tempo ou no espaço. Pois começa de um ponto e vira um tanto, um quanto, cada vez mais a cada sorriso, a cada incentivo, a cada momento, a cada gesto, a cada olhar.

Ter (ou ser) um amigo (ou amiga), é renovar a alegria, a cada dia, a cada estar. É dividir sentimentos de paz, de igualdade, de alegria, de bem-estar, de tristezas também.

Ter um amigo (ou amiga), é não ser igual, é ter o compromisso de reto proceder, não porque se deseja servir de exemplo, mas porque o coração que bate a dois, na amizade, torna-se um só.

Sentir amizade é ver no outro (ou na outra), o irmão (ou irmã) muito mais que carnal, espiritual. É a união de espírito a espírito, é não ter que se desculpar (porque ele - ou ela - sabe por antecipação que não se fez de propósito, que não foi intencional). É também a comunicação de espírito a espírito, de sorriso a sorriso, de olhar a olhar, de sofrer a sofrer, de chorar a lágrima sentida, a dois.

Principalmente, quando se perde um amigo - ou amiga. A vida é assim. Época difícil, em que muitos perdem seus amigos. Pena, pois às vezes não há nem tempo para despedidas. Mas fica a lembrança, o sorriso, o incentivo, o compartilhar. Nestas horas não somos adultos, ou crianças, somos apenas amigos. E o amigo - ou amiga sai do âmbito da concretude e dos sentidos conforme Parmênides, ou seja, da nossa visão, do aperto de mãos, da temporalidade, para o âmbito da infinitude, do sentimento mais puro, aquele que a vista não alcança. E vai viver no Mundo das Idéias, de Platão, na Shangri-lá de James Hilton. E deixa a distância. O eco da sua voz no espaço, o sorriso solto no tempo, dele (dela), que de amigo virou ausente.

A todos vocês, amigos e amigas do lado de lá, com ou sem laços de parentesco, que nos antecederam - sem sequer, às vezes, de ter tempo de dizer até breve! Nosso afeto, nosso carinho, nossa alegria, o desejo de progresso, de realizações, de encontros e re-encontros.

Mas, dê-nos licença - neste instante, um pequeno staccato, para libertar uma, duas lágrimas - nada demais, apenas, a saudade de quem fica - não a lastimar, mas de ter esperança - pois a lágrima é o sentimento que se materializa, é o cristal que, translúcido, contém, milagrosamente, todos os afetos - os que se foram e os que ainda cá estão - em seu interior. É o diamante, jóia brilhante, pedra preciosa extraída do coração - do mesmo coração que abriga todos aqueles a quem um dia pudemos chamar de AMIGOS !

(Aos amigos de ontem, de hoje e de sempre !)

Bibliografia: Emmanuel/Chico Xavier- Caminho, Verdade e Vida, item 86; Kardec, Allan - O Livro dos Espíritos, item VI, Cap. IX do Livro 2o.; Revista Thot no.79 publicação da Associação Palas Athena; Voltaire, F.M.A. - Dictionnaire Philosophique.

PRESERVAR, PARA QUE ?

Esta foi uma pergunta que ouvi recentemente : preservar, para que? Algumas perguntas cujas respostas poderiam aparentemente parecer óbvias, realmente não o são. E refleti na melhor maneira de tentar não justificar, mas esclarecer, de forma a abranger um número maior de pessoas, principalmente no Brasil, onde a preservação, principalmente de nossa memória histórica, sempre foi delegada a grupos restritos, geralmente ligados aos poderes governamentais ou acadêmicos. Quase sempre, quando nos referimos à preservação em nosso país, as pessoas imaginam-se em meio a livros, documentos ou quaisquer bens móveis ou imóveis empoeirados pelo tempo, teias de aranha por todos os lados, umidade, fungos, ácaros, insetos, etc., etc. - o que pode realmente ocorrer, pela falta de cuidados. Ou então, em nosso meio espírita, a pergunta-resposta surge: Para quê preservar? A Doutrina não é evolucionista?

Vamos por etapas. Se buscarmos observar os monumentos, por exemplo, em nossa cidade de São Paulo, veremos que os cuidados de preservação e conservação são realizados por um órgão específico, o CONDEPHAAT, que, com grande, imensa dificuldade, mantém nossos edifícios e monumentos dos ataques do tempo, da poluição e do vandalismo. Em verdade, a maior parte de nossa população mal conhece tal trabalho, sequer que existe um organismo preservacionista de nossos bens culturais. Viajando no tempo, eu diria que graças ao bom Deus (e às almas de alguns lúcidos paulistas), tivemos alguns poucos edifícios conservados na Av. Paulista, por exemplo, tida como nosso cartão-postal (veja-se a Casa das Rosas). Foi com grande alegria que vimos o surgimento gradativo de ONGs e Associações de patronato com o intuito de preservar esses mesmos bens - veja-se o Teatro Municipal de S.Paulo, o recente restauro da Estação da Luz, o teatro São Pedro, a Sala São Paulo/OSESP, etc.

Cremos que a dificuldade está no desconhecimento e até na educação focados para o tema. Nosso povo aprecia a qualidade e tem bom-gosto, prova disto é a lotação esgotada de concertos de música clássica, festivais como o de Campos de Jordão, ou apresentação de orquestras, grupos de câmara, de música autêntica brasileira em teatros fechados ou ao ar-livre, as exposições culturais, como a dos bens culturais da China, do Egito, de pintores como Picasso, Renoir, Matisse, ou as exposições fixas no MASP, Pinacoteca, MAM, Museu de Arte Sacra, só para falar em São Paulo.

Com referência ao Espiritismo, o enfoque não é diferente. A Doutrina é evolucionista? Certamente que sim, preservados os seus princípios, pois o Ser tece a sua jornada na linha da Existência, ao longo dos milênios, direto para o seu destino - ser Luz !
No entanto, evoluir não significa esquecer os fundamentos que ele próprio estabeleceu como base de ascenção à sua Espiritualidade. E juntamente com o Ser, estão suas conquistas e realizações, os bens de Cultura que plasmou ao longo de sua jornada e que compõem o seu acervo espiritual. Conservar significa Respeitar - Preservar significa Cuidar - Atualizar pressupõe Referenciar - Resguardar pressupõe Vigiar, Poupar, Abrigar. Nada a ver com Reter, Segurar, Tomar.

Um exemplo cabal de desrespeito à Humanidade e à sua Evolução social, religiosa, antropológica, psicológica, espiritual, enfim, foi - e continua sendo - a paulatina destruição de seu berço cultural em terras do Iraque. Outro exemplo, a proximidade absurda do trânsito caótico com suas conseqüências, do Cairo, junto às Pirâmides, sem falar nos postos de estacionamento de camelos, para uso dos turistas. Os animais, sem outros cuidados, vivem por ali e seus dejetos estão minando as bases dos monumentos milenares - algo que, certamente, os antigos não puderam prever. Teríamos mais, muito mais a enumerar, se incluirmos ainda a preservação da fauna e da flora do planeta.

Um povo sem Memória é um povo sem História. Uma Doutrina sem Memória é uma Doutrina desprovida de Bens Culturais e Morais sólidos.

Preservar hoje, é sinônimo de Sobreviver - sobreviver à sanha do desequilíbrio existencial que toma conta de alguns poucos.

Não foi ao acaso que os Espíritos Benfeitores da Humanidade que compuseram a Equipe do Espírito da Verdade surgiram das brumas do tempo, fazendo-nos lembrar que os maiores bens adquiridos pela Humanidade estarão sempre sustentados e estruturados na rocha sólida que sustenta o edifício da Evolução. Passado, Presente, Futuro. Uma só Existência - a do Espírito Eterno e suas conquistas ascensionais.

PLÁGIOS, MEDIUNIDADE E RELACIONAMENTOS

José Herculano Pires, em sua obra Curso Dinâmico de Espiritismo, lançado na década de 80 em São Paulo, colocava um sub-título: "O grande desconhecido". O grande e digno representante de nossa Doutrina dizia, à época, da necessidade de estudarmos em detalhes, e profundamente, o Espiritismo, visto que as interpretações pessoais e desprovidas de conteúdo crítico coerente e consentâneo com as diretrizes traçadas pelos Espíritos, Superiores em evolução, poderiam nos levar a caminhos de difícil retorno no campo das considerações de ordem filosófica e religiosa, alimentando em sentido inverso, o materialismo e o niilismo dos dias atuais. Dizia Herculano:

O Espiritismo é uma doutrina moderna, perfeitamente estruturada por um grande pensador, escritor e pedagogo francês, homem de letras e ciências, famoso por sua cultura e seus trabalhos científicos e que assinou suas obras espíritas com o pseudônimo de Allan Kardec. Saber isso já é saber alguma coisa a respeito, mas está muito longe de ser tudo. Doutrina complexa, que abrange todo o campo do Conhecimento, apresenta-se enquadrada na seqüência epistemológica de :

a) Ciência: como pesquisa dos chamados fenômenos paranormais, dotadas de métodos próprios, específicos e adequados ao objeto que investiga, tendo dado origem a todas as ciências do paranormal (...)

b) Filosofia: como interpretação da natureza dos fenômenos e reformulação da concepção do mundo e de toda a realidade segundo as novas descobertas científicas. Aceita no plano filosófico, consta do Dicionário Filosófico do Instituto de França. No Brasil, reconhecido pelo Instituto Brasileiro de Filosofia (...)

c) Religião: como conseqüência das conclusões filosóficas, baseadas nas provas da sobrevivência humana após a morte e nas ligações históricas e genésicas do Cristianismo com o Espiritismo; considerada como a Religião em Espírito e Verdade, anunciada por Jesus (...)


Poderíamos continuar, mas seria cansativo para o nosso leitor, ávido de rápidas conclusões. Preferimos remetê-lo ao estudo da obra em análise, agora em nova edição. A solução, portanto, está e estará sempre na necessidade de buscarmos as respostas para as grandes e pequenas questões atuais, na própria fonte, como sugere Herculano, nas obras da Codificação. E, sobretudo, contarmos com os comentários alusivos a essas questões, nos escritores sérios e interessados no grande objetivo do Espiritismo, que é respaldar o Mundo Moral de Regeneração, que ora projeta o seu horizonte, poderia dizer Herculano, Horizonte da Razão e do Amor, ou a Aristocracia do Pensamento Intelectual e Moralmente desenvolvido, como queria Kardec, à humanidade de nossos tempos.

Portanto, os atuais meios de comunicação (não-espíritas) devem ser esclarecidos e devidamente conduzidos quanto aos verdadeiros objetivos do Espiritismo, mas sobretudo, de que ao nosso meio, o espírita, não é fator de destaque o desenvolvimento de polêmicas, e sim, o de darmos sequência ao Plano Divino da Criação, que nos faz, a todos, seus instrumentos de realização e concretização na Terra.

Ouvimos em várias ocasiões pessoas e até companheiros no movimento espírita mundial desenvolvendo "temas polêmicos", como se fosse imprescindível lançá-los, principalmente diante do grande público, sob a ótica espírita. Kardec, ao lidar com o Crítico, o Religioso e o Cético, no famoso diálogo atemporal na obra O que é o Espiritismo, lida de forma magistral com as abordagens que visavam desestabilizar - como se isso fosse possível - as bases da Doutrina. E dialoga de forma tranqüila, serena, jamais enfocando o sensacionalismo, jamais enfatizando o escândalo, ou as asperezas de nossa personalidade instável nos campos da Terra e ainda em burilamento, mas sobretudo fazendo-nos entender a necessidade de estudar, analisar, pesquisar, e educar a nossa análise crítica nos padrões da ética e da moral de Jesus. A nós não importa a visão atual do "escândalo" da alegoria do Mestre, travestido de "polêmica", mas sim a discussão sadia, a análise criteriosa, enfim, a decodificação dos tempos atuais sob a visão ampla e equilibrada que o Espiritismo nos proporciona.

O Espiritismo também conta com dignos representantes, na pessoa do manso e firme Chico Xavier, do divulgador e estudioso Divaldo Franco, bem como com centenas de milhares de anônimos ou meio-anônimos que trabalham para que o Conhecimento apoiado na prática da Fraternidade e Caridade legítimas, possa dar seguimento ao Plano Divino para a Criação. Trabalhemos e estudemos e amemos, pois há muito ainda por fazer.

Bibliografia: Além das citadas, veja-se Instruções Psicofônicas, psicografia de Francisco C.Xavier.

PAULO E OS 40 JOVENS MÁRTIRES DA CAPADÓCIA

Uma releitura periódica de Paulo e Estêvão dá-nos a dimensão não só do trabalho de divulgação cristã ao tempo de Jesus, mas de particularidades do convívio dos antigos seguidores do Mestre, às vezes inobservadas, contudo, de grande eloqüência, por sua atualidade e importância. Os grandes personagens da história cristã tornaram-se grandes não por sua projeção no meio em que viviam, haja vista o esquecimento a que Paulo esteve relegado durante muito tempo após sua morte, mas por sua capacidade de renúncia a tudo o que não expressasse a verdadeira mensagem do Mestre. Meditando em suas ações e pensamentos, reconhecemos que Saulo fêz-se Paulo de forma gradativa, lenta, mas constante, profunda e definitiva. Espírito preparado? Sem dúvida. Mas o grande momento da estrada para Damasco coloca-o frente à sua própria verdade existencial. E ao reconhecê-la, projeta-se à frente, de posse da missão para o qual fora convidado a realizar. Dali em diante, vemos um homem em luta constante com os desafios da existência, tentanto (e conseguindo) superar-se a si mesmo, ao seu passado, à própria cultura, à cultura de sua época, aos desmandos religiosos farisaicos, à política hegemônica romana, aos hábitos judeus, aos mitos e superstições dos gentios - "já não sou eu, mas o Cristo que vive em mim".

Por outro lado, os quarenta da XII Legião de Sebastes, na Capadócia, em fins do século IV, com os sacrifícios a que foram submetidos e ao precoce martirológio aceito com absoluta concordância e união de propósitos numa época de grave transição religiosa, conduz-nos à reflexão, por vários ângulos.

Embora a época seja outra, vivemos momento semelhante, e, não obstante a civilização avançada em conhecimento e ciência, o ser humano é o mesmo e ainda carece dos convites da Vida para burilar-se e ir ao encontro da própria realização espiritual. É certo que hoje, os testemunhos concentram-se em outros alvos. Hoje como ontem, ampliam-se os horizontes de ação. E ao espírita, que atualmente superou o preconceito dos religiosos sectários, também está reservado o mesmo mecanismo de ação interior e de absoluta adesão à ética e à moral preconizada e inerente a Jesus. Conhecer, sim, mas sobretudo, amar. Estudar e ampliar a visão de mundo sim, mas também sentir o doce sentimento da amizade sincera, do companheirismo, da partilha, do respeito mútuo, da troca, dos encontros fraternos de estudo e de trabalho em prol de uma comunidade mundial ainda e por muito tempo carente de conhecimentos acerca de sua verdadeira natureza, a espiritual.

Paulo, Estêvão, Abigail, Barnabé, Filoctemo, Gútrio, Claudio, Valério, Caio e muitos outros permanecem à frente de nossas vidas, como semeadores da parábola, indicando-nos o bom terreno, aplainando-o e retirando as pedras e os calhaus para que prossigamos, não na luta inútil de uns contra outros, na guerra e na morte, originando doenças e enfermidades mentais, como acontece em nosso mundo contemporâneo, mas contra as nossas próprias imperfeições, tomando o jugo suave como lema e o fardo leve como bagagem.


Bibliografia:

O Livro dos Espíritos, Paulo e Estêvão (Emmanuel/Chico Xavier), A Esquina de Pedra (Wallace L.Rodrigues), The Catacombs of Rome and the Origins of Christianity- Fabrizio Mancinelli, I.F.Editoriale, Firenze; Diário de viagens pelo Oriente Médio, da autora.

SALVAÇÃO.. UMA REFLEXÃO ESPÍRITA

No capítulo XV de O Evangelho Segundo o Espiritismo, encontramos a frase "Fora da Caridade não há salvação", comentários de Kardec acerca da Parábola do Bom Samaritano (Mt.15, 31:46). Diz o codificador que toda a moral de Jesus se resume na caridade exercitada e na humildade assumida, como regras-base da convivência pacífica, contrárias ao egoísmo e ao orgulho, instrumentos de conflito nas relações humanas.

Trata-se de uma das mais belas passagens do Evangelho, na qual o mestre de Lyon exprime, na realidade, a sua própria vivência, superando-se, dia após dia, no cumprimento da mensagem de Amor na qual trabalhava. Em outra obra, "Viagem Espírita em 1862", Kardec, ao responder uma das muitas questões a ele formuladas pelos grupos espíritas que visitou naquele ano, sobre a necessidade de os adeptos do Espiritismo terem uma senha para se reconhecerem ao se encontrarem, diz que os espíritas, por não constituírem uma sociedade secreta, não deveriam ter, portanto, nenhum sinal secreto para mútua identificação: "um sinal, uma senha, poderiam, ademais, ser também usados por falsos irmãos, e o resultado é fácil de ser imaginado. Vós tendes uma "senha" que é compreendida de um ao outro extremo do mundo: é a caridade." (O grifo é nosso). "A verdadeira caridade não pode ser falsificada. Nela reconhecereis sempre um irmão, ainda que ele não se diga espírita, e deveis estender-lhe a mão...".

Em primeiro plano, Kardec diz "vós tendes"; trata-se de uma afirmação, uma certeza, portanto inerente ao Ser, que permeia as suas diversas existências na matéria, donde se conclui que a caridade é resultante de um desenvolvimento, e não de uma aquisição, como aliás, todas as virtudes e seus valores correspondentes. Em toda codificação encontramos afirmações análogas a esta, revelando-nos que somos portadores de virtudes em estado de latência, apenas aguardando o momento adequado para consolidar-se em definitivo.

O egoísmo e o orgulho, em sua fonte, constituem princípios inerentes à lei de conservação, portanto necessários à preservação da vida, não obstante tornarem-se elementos constritores à plena realização do Espírito se não trabalhados em sua essência. A reencarnação, ou seja, o impacto que o Espírito sofre na matéria densa, seria como um lento e metódico processo de refinamento, um filtro de onde esses princípios surgiriam, transformados em altruísmo e real amor a si mesmo, como pedras preciosas livres do cascalho asfixiante. Tal como na questão 908 de O Livro dos Espíritos, quando Kardec difere as paixões em seu nascedouro, como princípio de elaboração necessário ao desenvolvimento humano, das paixões desvirtuadas em seus excessos.

A caridade, hóspede perpétua da alma quando tornada ação, eleva-a, evidenciando, de maneira clara e contundente, o degrau em que o Ser se situa. Como é inerente a ele, qualquer que a possua em alto grau, será intenso pólo de atração para outros seres, que se lhe estarão, consciente ou inconscientemente submetidos de forma espontânea. Jesus, jamais eclipsado pelos egos naturais de seus conterrâneos, teve à sua frente o mandatário de César, na pessoa de Publio Lêntulus, que se lhe submete sem questionamentos. Francisco, o poverello de Assis, atraía a si as criaturas embrutecidas no eclipse da razão, pois falava-lhes com sentimento de branda, mas intensa e amorosa ternura.

A caridade ativa, quando em sinergia com a razão, com o conhecimento, transforma-se em poderoso elixir de saúde, de juventude e alegria. Não da alegria esfuziante e desarrazoada, fruto de estímulos exteriores, mas como forma de comunicação silenciosa, cercando os indivíduos com uma aura de bem-estar e regozijo interior, pois é poderoso meio de comunicação de alma para alma.

A salvação, ou auto-redenção, desta forma, dá-se de forma natural, espontânea, sem maiores esforços senão os de ajustar em si mesmo a confiança plena nos poderes superiores que dirigem a nossa existência. A salvação, tal como a caridade, não vem de fora para dentro, mas define-se em movimento perene, em cascata, do Ser em ascensão, para a vida em plenitude.
Tal como o anônimo bom samaritano, que, sem questionar ou emitir julgamentos acerca do ferido caído à margem da estrada, arregaçou as mangas e imediatamente trouxe-o de volta à vida.

Estamos, hoje, na pré-história de um mundo de regeneração - o que estamos efetivamente fazendo para que este momento não se alongue em demasia? Quantos caídos à margem temos colecionado em apenas uma existência? O mundo hoje é uma imensa projeção dos conflitos e lutas íntimas que se retratam de infinitas formas, todas inequivocamente fruto da abstinência de Deus nos corações. Escolhe o ser humano o caminho das pedras e cascalhos, ferindo-se, caindo e tornando-se a ferir, acumulando pontos de dor e sofrimento no que ele próprio convencionou chamar de jogo da vida.

Passamos ao largo na estrada, inúmeras vezes, fazendo de conta que não vemos a própria dor projetada no outro, no caído, na vítima das próprias aflições, açulado pelas feras interiores que o conduziram aos padecimentos de toda a sorte. Belo ensinamento de Jesus; o Samaritano, elevado à categoria de irmão, entende as mãos, os braços, a dedicação, o respeito, a misericórdia, e despindo-se das construções de fachada, torna-se-lhe um igual, compactua-lhe as angústias, irmana-se-lhe no martírio, e salvando o outro salva-se a si mesmo, diante de seus próprios olhos e da Divina Lei.

FALEMOS DAS TREVAS..OU DA LUZ ?

Estamos atravessando um período de transição... os prognósticos de Jesus ora se cumprem... as previsões alarmistas de João preconizam o final dos tempos. O 11 de setembro passou a ser um marco desse processo... as religiões ora se debatem em disputas inglórias pela posse de fiéis... a filosofia dedica-se às discussões estéreis focadas tão somente para as ações políticas... a ciência luta pela primazia de seus postulados... a globalização já faz suas vítimas...

Por outro lado, a poluição, o efeito estufa, o desmatamento predatório, a matança contumaz de animais, o retorno de enfermidades consideradas extintas, o ser humano que se debate entre as drogas e a prostituição, continentes inteiros à beira da morte e à mercê das doenças sexualmente transmissíveis e da fome, as guerras, o genocídio, a aflição, a violência de qualquer nível, a mediocridade dos programas de "lazer" impostos pela mídia, o egoísmo, o ódio, a inveja, a intolerância....


Poderíamos prosseguir neste "staccato”, e nada acrescentaríamos aos fatos já existentes e constatados neste plano de provas e expiações. O Evangelho Segundo o Espiritismo, em seu capítulo V, item 20, contém comentários do Cardeal Morlot acerca da máxima do Eclesiastes, "a felicidade não é deste mundo". Lá, a ênfase dada pelo autor diz respeito à busca de condições consideradas pelo ser humano ainda não espiritualizado, como essenciais à sua felicidade, quais sejam, a juventude, a riqueza e o poder.

E tal tem sido a nossa meta, consciente ou inconscientemente. Ao refletirmos, contudo, nesses comentários, fácil se torna descobrir a causa, ou as causas do sofrimento incessante sobre a Terra e concluir que nada do que é transitório, temporário, poderia trazer felicidade ao Espírito que é eterno, portanto, carente de valores igualmente eternos que o alimentem e sustentem.

Trata-se da sublime equivalência ensinada por Jesus, quando revelou-nos ser, em linguagem analógica divina, o Caminho, a Verdade e a Vida, pois somente através dele, que superou a transitoriedade de forma tão contundente e dolorosa, poderíamos alcançar a verdadeira paz de espírito ativa na constante ação no Bem.

Torna-se, então, contra-producente enfatizarmos a ação das trevas ainda existentes no planeta e no nosso cotidiano, numa atitude constante, sistemática, prevalente e marqueteira, como a querermos gravar no inconsciente coletivo apenas as nossas mazelas e contradições. Tal já fizeram as religiões, ao criarem as zonas infernais. E, com isso, deram vida à passividade, à conformação, à ignorância, ao medo e à omissão...

Façamos o inverso. Alertemos quanto à necessidade do conhecimento; falemos sobre o Bem que já se instala nos corações humanos; do amor ao próximo tão exemplarmente vivido por todos aqueles que dedicam suas vidas à Ciência humanitária, à Filosofia humanista, à Religiosidade que se expressa na comunhão entre Criador e criatura, através do respeito da segunda à Natureza, à Criação, numa dialética divina e eterna.

Falemos dos médicos e enfermeiras que trabalham diuturnamente nos hospitais de periferia, doando de seus minguados salários o dinheiro necessário à reposição de material faltante, quando não à ajuda aos pobres que os procuram; falemos dos paramédicos que atendem, madrugada afora, à imprevidência e ao descuido nas estradas e nas ruas das grandes metrópoles; falemos dos operários e das mulheres que sustentam seus lares e famílias; dos que cuidam dos órfãos e dos velhos; dos que arriscam suas vidas em defesa do outro, dos que mantém a ordem; dos que minimizam a miséria, a fome e a delinqüência; daqueles que trabalham, anônimos, para manter o conforto que usufruímos em nosso lar; das ONGs que se dedicam à preservação da Vida na terra, no ar, nas águas, velando pela Natureza e pelo meio ambiente.


Sobre a Humanidade desencarnada, falemos das falanges de Espíritos que já preparam o seu retorno ao planeta das formas, com a missão de fazer retornar às Ciências, às Artes, à Educação, à Cultura, à Religião, o caminho da transcendência, para o imenso trabalho da Regeneração planetária que já teve seu início há 300 anos. Falemos ainda sobre as comunidades espirituais em trabalho constante de apoio e sustentação aos encarnados de qualquer nacionalidade, credo, raça, costumes, cultura, pois é grande a Casa do Pai, e não há privilegiados em suas Moradas.

Falemos, sim, sobre a Divina Promessa, pois ela jaz latente em todo e qualquer coração humano, contudo, efetivemos a sua construção efetiva, a começar pela harmonia em nossas atitudes; falemos na Doutrina Espírita, mas acima de tudo, vivamos os seus postulados emprestando-lhe de nossa dignidade e respeito; não pregação (hábito das religiões), mas vivência real, clara, objetiva, sustentada no estudo profundo e no profundo desejo de sermos bons; não somente divulgar, mas Educar com coerência.

O mal será dizimado desta forma? Dizem os Espíritos que por algum tempo ainda estaremos em estreito combate com as sombras, pois ela jaz em nossas consciências. Entretanto, o Progresso já se faz presente, pois a luz já ilumina as trevas, a esperança ganha vida, e o conhecimento aliado à ética trarão, em breve, e definitivamente, a Grande Promessa para a convivência humana, pois ela é inerente ao progresso, é determinismo latente no Ser, é sublime e eterna Verdade.

Todavia, ela não virá por si só - dependerá de nossa íntima aceitação, de nossa adesão incondicional, e de absoluta integração na sociedade, como instrumentos transformadores e facilitadores de sua renovação.

OS HERDEIROS DE CHICO

Chico Xavier se foi. Mansamente, serenamente, como sempre viveu. Em noite de festa, de alegria, como um guerreiro que retorna da intensa batalha. A nossa festa, contudo, era outra. Nossos heróis expressavam outra luta. Não menos intrépida, pois resultante da disciplina no exercício do esporte e do amor à representatividade brasileira. Nessa noite, todos estávamos envolvidos com a bandeira verde-amarela.

Todos lembrávamos do Brasil querido, embora maltratado em sua diversidade, em suas matas, em sua fauna, em seu povo, com milhões de famintos de pão e de luz. Noite importante esta, pois nos fez lembrar como é bom ser brasileiro. Não se trata de nacionalismo doentio, de entusiasmo passageiro, da alegria esfuziante que busca uma forma de compensar as notícias graves e preocupantes do cotidiano. Mas daquela alegria que conduz à retomada das atividades e dos compromissos com mais certeza de que as coisas vão melhorar. Contudo, essa mesma alegria conduz-nos à reflexão: ao ver pela TV as diversas cidades brasileiras, o homem, a mulher, o jovem, o idoso, o pobre, o rico, o mediano, refletimos sobre muitas coisas. A começar sobre o quanto este povo persevera na luta, embora os obstáculos; na constância do sorrir ante as perplexidades da existência; na competência de enfrentar com coragem e com espírito de partilhamento as inúmeras adversidades da existência, mas, sobretudo, na imensa aptidão para o amor.

Não foi ao acaso (aliás, acaso, segundo Téophile Gautier, é o pseudônimo de Deus quando Ele não quer assinar a Sua obra), que os Espíritos Superiores para cá conduziram a 3a. revelação cristã, corporificada na Doutrina Espírita. Contudo, é preciso refletir ainda mais.

Sim, pois estamos na pré-história da regeneração de nossos Espíritos, portanto, esse amor latente precisa de cuidados. Algumas vezes receberemos a perda, a nos ensinar o desapego, a calúnia e a traição, a nos ensinarem a compreensão, veremos o escândalo, a nos ensinar a necessidade da ética, a dor e o sofrimento para desbastarem o diamante que jaz, bruto, em nós.

Porém, receberemos também a presença dos Amigos da Humanidade que tomarão para seus corações, intensificado, potencializado pela ignorância, o nosso lado sombra personificado nos sentimentos citados. Estes, trarão em si, a Misericórdia, inerente aos grandes corações; a Humildade, peculiar àqueles que se reconhecem como eternos aprendizes da Vida; a Coerência no falar e no viver, atributo exclusivo aos reais Apóstolos da Verdade; a Compreensão, pois sem ela, revidariam prontamente à imensa pequenez dos atos humanos que se expressam, bastas vezes, através do revide e da vingança, pois estes "não sabem o que fazem"; a Sabedoria, que os torna luzeiros para as trevas em que jazem os sentimentos da humanidade; o Amor, pois sem ele, sabem que nada, nada seriam, visto que o contrário do Amor é o desamor, é a ausência do Bem, segundo Kardec, portanto, vacuidade que seria ocupada pelos atavismos de toda sorte.

Hoje, mais um Amigo da Humanidade se vai. Sentimo-nos vazios de sua presença amiga e carinhosa, mas séria e expressiva. Representante na Terra de milhares de Espíritos do Bem, cristaliza em nós a certeza de que somos seus herdeiros. Herdeiros do trabalho que nos compete realizar; das lutas interiores a travar; da tolerância para com os inimigos, da troca amorosa com os amigos e companheiros.

Temos, em nossa natureza, a perseverança não obstante os obstáculos - brasileiros, sim, todavia, não importa a nacionalidade mas a natureza do sentimentos que nos caracteriza. Nacionalidades, instituições, partidos, são apenas rótulos. A nossa real natureza nos identifica perante a própria consciência.

Certamente, 30 de junho será lembrado como um dia de festas. Alegria maior estão os seus amigos, companheiros e mentores que certamente o recebem com o Amor que ele merece. O mesmo Amor que ele doou através do trabalho humilde, da paciência e da tolerância para com os maus, da compreensão para com o Império da Dor a escravizar as almas comprometidas com o passado obscuro; sobretudo, da imensa capacidade de assimilar Jesus - por isso compreendeu e distribuiu a todos, indistintamente, os seus potenciais e as suas conquistas.

Aqui, ficamos nós. E agora? É Emmanuel quem nos convida:

"Os apóstolos, em todas as grandes causas da Humanidade, são instituições vivas do exemplo revelador, respirando no mundo das causas e dos efeitos, oferecendo em si mesmos a essência do que ensinam, a verdade que demonstram e a claridade que acendem ao redor dos outros. Interferem na elaboração dos pensamentos dos sábios e dos ignorantes, dos ricos e dos pobres, dos grandes e dos humildes, renovando-lhes o modo de crer e de ser, a fim de que o mundo se engrandeça e se santifique. Neles surge a equação dos fatos e das idéias, de que se constituem pioneiros ou defensores, através da doação total de si próprios a benefício de todos.

Por isso, passam na Terra, trabalhando e lutando, sofrendo e crescendo sem descanso, com etapas numerosas pelas cruzes da incompreensão e da dor. Representando, em si, o fermento espiritual que leveda a massa do progresso e do aprimoramento, transitam no mundo, conforme a definição de Paulo de Tarso, como se estivessem colocados pela Providência Divina, nos últimos lugares da experiência humana, à maneira de condenados a incessante sofrimento, pois neles estão condensadas a demonstração positiva do bem para o mundo, a possibilidade de atuação para os Espíritos Superiores e a fonte de benefícios imperecíveis para a Humanidade inteira."

REFLEXÃO PARA UM ANO SEMPRE NOVO

Mais uma vez encerrou-se, como outras vezes, um período no qual depositamos nossas esperanças e nossa fé. Jesus perpassou pelas mentes humanas, como o Cavaleiro Divino da Paz, montado em seu corcel de luz, fomentando na Terra o sentimento da Grande Fraternidade Universal. Interpretamo-la cada qual ao seu modo - e extravasamos esta Verdade Maior através do sorriso fraterno (às vezes vacilante), do abraço amigo (nem sempre aceito), da mão estendida (aguardando, contudo, por também receber).

O Natal se foi. O Grande Aniversariante deve ter sorrido, algumas vezes esperançoso ante a pausa precária das lutas fraticidas e dos diálogos políticos dúbios em busca de uma paz inglória. Entretanto, o Mestre da Luz deve ter se alegrado com a fraternidade que já acende seus candeeiros com o azeite do trabalho, candeeiros estes colocados por mãos que vivem a Caridade, acima do velador, para que outros possam seguir em sua direção e iluminar os seus próprios caminhos.

Houve, sim, a pausa da guerra inexorável, cruel que, cedendo terreno à paz ainda não duradoura, fez e faz com que os homens elevem os olhos para os céus em sua eterna sede do Infinito, perguntando-se as razões dela perpetuar-se ainda.

A mesma pergunta aquele astronauta fez a si próprio quando, admirando a Terra do espaço, pôde ter uma visão de plano diferente - uma visão cósmica e verdadeira, uma quase clarividência. E caiu em si - como o filho pródigo, chorando amargamente ao retornar e encontrar seus irmãos mais perdidos do que nunca em seus mergulhos profundos na superficialidade das próprias existências, cada vez mais solitários, como cegos guiando outros cegos.

Contudo, nova etapa se inicia. Novamente a ansiedade diante do desconhecido, do que está para vir nestes próximos 365 dias, faz a curiosidade perguntar:

— O que irá acontecer?

Ingênua questão para aquele que ainda "espera que outros façam acontecer". Maneira fácil até de tirarmos a cruz de nossos ombros e prosseguirmos a assistir, de cadeira cativa, o eterno circo da vida com seus leões da incúria e do egoísmo que avassalam a alma humana nos tempos atuais, gladiadores do orgulho desmedido e do poder delituoso e transitório a semearem a discórdia e a indisciplina no palco da existência humana. Palco em cujo chão desfila o homem, inconsciente do conteúdo subjacente de seu script. Do verdadeiro script.

Ao submeter-se ao tribunal do descrédito na pessoa daqueles que o condenavam, Estêvão (talvez na esperança de trazer mais cedo a revelação do Amor Fraternal do Cristo ao moço de Tarso), com a frase Moisés foi a porta, Jesus é a chave, perenizou a mensagem imortal da salvação que a coroa do martírio adquiriu para a nova humanidade. E cabe a nós, espíritas, novos portadores do divino "segredo", abrirmos as portas do conhecimento, da Justiça, da Paz, através da Caridade que faz florescer em nós o Amor Universal, como pequeninas luzes a se acenderem no mais profundo do nosso Ser, fazendo-nos conhecer a nós próprios e a nossa capacidade infinita e maravilhosa de sermos deuses.

Albert Schweitzer, após o retorno de sua vida dedicada aos selvagens da África (aos nossos olhos - porém, aos olhos do Cristo, seus pequeninos), exclamou, num lampejo inspirado de fé profundamente enraizada em seu ser, que ninguém é grande pelo que faz, mas por aquilo a que renuncia e pelo que sofre - palavras vividas de cátedra por alguém que, aos 30 anos, médico, filósofo, primeira autoridade no campo das pesquisas sobre o grande compositor Johann Sebastian Bach, exegeta e cientista, construtor e missionário, deixou as comodidades e a tranqüilidade do lar e da profissão, para lançar-se "à cata de aventuras" na selva hostil, sofrendo, auxiliando e amando um povo faminto e doente, sedento da água da fonte divina, não pregada, mas vivida. E como ele, muitos outros.

O que nos leva a perguntar, notadamente nos dias atuais: e nós, espíritas? Pois portadores que somos do espírito que vivificava través do Evangelho decodificado pelos Espíritos Superiores, temos pregado, sim, todavia, temos vivido este mesmo script nos maviosos atos do drama universal da vida?

É ela, Filosofia dos Espíritos e para os Espíritos, encarnados ou não, habitantes nos dois planos da existência humana, portadora da consolação para os aflitos e desvalidos do mundo, para os que se perdem na ilusória vida material e para os que tentam voltar; para os cobradores de dívidas passadas e para os que saldam estes débitos. Para todos, pois, é a Doutrina amiga, que transmite a palavra de consolo, do esclarecimento e da paz que não se negocia mas se realiza concretamente.

E para os portadores do sal da Terra e da luz do mundo?

Aos espíritas cabe a resposta. A cada um, individualmente, postado frente à aflição personificada nos enfermos de todos os matizes que nos procuram direta ou indiretamente, cabe "fazer acontecer" aos 365 dias do ano que ora se inicia. Ativamente, evangelicamente, amorosamente.

Parafraseando Paulo, calando favores que tenhamos recolhido na tarefa, porque esse galardão só pertence a Jesus:"Por mais que tenhamos estudado, sentimos um abismo entre nós e a Sabedoria Eterna; por mais que tenhamos trabalhado, não nos encontramos digno d'Aquele que nos assiste e guia desde o primeiro instante da nossa vida. Nada possuímos de nós mesmos!... Toda vitória pertencerá ao seu amor e não ao nosso esforço de servos endividados..."

EFE Filosofia Espírita

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