FILOSOFANDO O COTIDIANO

O autor define com mestria o significado da FILOSOFIA ESPÍRITA vigente no atual estágio evolutivo em que nos encontramos.
Acompanhe conosco esse processo de encontros e desafios, que definem o Ser em busca de si mesmo através de ações que convergem a favor da paz e da Harmonia.

Educar para o pensar espírita é educar o ser para dimensões conscienciais superiores. Esta educação para o Espírito implica em atualizar as próprias potencialidades, desenvolvendo e ampliando o seu horizonte intelecto-moral em contínua ligação com os Espíritos Superiores que conduzem os destinos humanos.(STS)

Base Estrutural do ©PROJETO ESTUDOS FILOSÓFICOS ESPÍRITAS (EFE, 2001): Consulte o rodapé deste Blog.

14 de fevereiro de 2010

O PODER DA PALAVRA

Encontramos em Provérbios, 6:16-19: "Estas seis coisas o Senhor detesta, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente; o coração que maquina pensamentos perversos, pés que se apressam a correr para o mal; a testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos.”

Analisando os dizeres bíblicos, vemos que o rigor neles exposto, falava diretamente às mentes ainda incipientes do Bem e do amor ao próximo.

Em nossos dias, porém, a Filosofia Espírita já nos facultou a possibilidade de observarmos as nossas imperfeições, quando, ao responder a Kardec sobre o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir aos arrastamentos do mal, os Espíritos Superiores nos garantiram que o Conhece-te a ti mesmo, seria a fórmula eficaz.

Por outro lado, a preocupação geral nos meios profissionais e até mesmo na mídia, que se retrata na intermediação dos ombudsmen, coloca a questão das relações humanas sob condições de extrema importância até para o desenvolvimento das empresas e de indivíduos.

Mas é na literatura universal, que muitas vezes encontramos exemplos práticos do cotidiano das pessoas. Refiro-me ao drama “Othelo”, de William Shakespeare, autor que, com rara perspicácia, soube, em sua época, traduzir na dramaturgia, os deslizes naturais provenientes das imperfeições humanas.

A ação se passa no século XV. Othelo, general mouro do exército de Veneza, volta triunfante para casa, após derrotar os muçulmanos. Um de seus adjuntos, Iago, procura comprometer um rival, Cassio, forjando contra ele a acusação de manter um caso amoroso com Desdemona. Ela é mulher de Othelo. Este, por sua vez, deixa-se corroer pela dúvida, pela depressão obsessiva. A suposta afronta à sua honra precisa ser vingada. E é induzido pela palavra mordaz de Iago, que Othelo arquiteta e executa a morte de sua mulher, com as próprias mãos. Mas, como a verdade sempre vem à tona, Othelo fica sabendo da trama movida por seu lugar-tenente. Muito tarde, porém, para remediar o mal que praticara, instrumentalizado pelos sentimentos de vingança. A técnica utilizada por Iago surtira seu efeito. Agindo com a experiência de quem tem o feeling apurado das fraquezas humanas, o personagem vai incutindo, veladamente, palavras e sentimentos na mente e no coração de Othelo.

Interessante observar-se a mudança gradativa que vai se operando neste último, que, de homem firme e categórico em suas ações e palavras, vai se tornando depressivo, opresso em suas manifestações emotivas, desconfiado, afastando-se do convívio com os amigos, dando oportunidade a que sentimentos malsãos se avolumem em seu íntimo. Como movido por uma força invisível, Iago vai prosseguindo em seu trabalho, sorrateiro, sagaz, personificando a analogia de Aristóteles, que diz que os maldizentes aguçam as suas línguas como a língua das serpentes, pois, à semelhança do órgão animal, que tem duas pontas, sendo fendida ao meio, também a língua daqueles fere e envenena, de uma só vez, o coração daquele com quem está se falando e a reputação daquele sobre quem se conversa.

Uma vez tocado o coração de seu senhor, Iago torna-se hábil no transformar situações simples em cenas de cruel comprometimento para seus participantes. É assim, que um simples diálogo entre Cassio e Desdemona, converte-se em secretas juras de amor; um encontro casual, em compromisso previamente marcado; um objeto caído ao chão, um olhar, um cumprimento, em senhas para encontros furtivos, em paixão mal contida, em ensejos para a realização de algo previamente planejado e obscuro. E Othelo vai sendo enredado nas artimanhas da mente algo diabólica, algo traquinas de Iago.

Semelhantemente, vemos os personagens de Shakespeare extremamente atuais e vivos hoje como ontem, pois o século do escritor, se distanciado no tempo, não o é em termos de crescimento moral para o homem, que ainda se enleia em sentimentos dessa natureza. Os que não conseguem dominar a própria língua, certamente são portadores de conflitos íntimos, nem sempre conscientes; pessoas que vivem esmagadas por sofrimentos, angústias e amarguras que impedem o reconhecimento dos valores existentes na vida dos seus semelhantes.

São de Joanna de Ângelis, sábia perscrutadora da alma humana, as seguintes palavras: “O silêncio que fazem a propósito das tuas boas ações e a forma como divulgam as tuas imperfeições, constituem fenômeno humano compreensível. Os companheiros nem sempre estão dispostos a ajudar no anonimato. Vendo o teu aparente êxito, deixam-se pinçar pelos sentimentos negativos da inveja e do despeito, passando a ignorar-te ou a desconsiderar os teus feitos positivos. Eles nada sabem a respeito dos teus testemunhos e sofrimentos, dissimulados pela dedicação ao bem. Ao invés de serem participantes da tua realização, competem, magoados, sem desejar oferecer o contributo da renúncia e do sacrifício pessoal. Convidados à abnegação e ante as provas normais que lhes chegam, desertam, queixam-se e maldizem, entregando-se ao desânimo e à revolta...

Os excessos, a má conduta, os comportamentos arbitrários, afligem também aqueles que os movimentam ou se lhes submetem. É o sofrimento em decorrência do mal.

Natural, portanto, que sofras, pelo bem, ainda marginalizado, com poucos interessados reais em favor da sua propagação.

Não estranhes, desse modo, a conduta daqueles que combatem o bem em ti, o teu lado bom, através do silêncio bem mantido, como se estivessem em conspiração contínua.

Além disso, trabalhas, sem qualquer dúvida, para o Bem e não é importante que se saiba o quanto fazes, mas que Jesus, que te inspira e conduz, tenha conhecimento.

Segue, pois, em silêncio e sem mágoa, não estranhando a atitude dos beneficiários que te esquecem, nem daqueles que te ignoram.”

Um novo modo de pensar e de agir, na vida de muitas pessoas, está a depender de alguém que tenha palavras impregnadas de amor. No íntimo do indivíduo, existe o desejo de ouvir palavras de acolhimento, de compreensão, de solidariedade e de apoio, em clima de simpatia e de confiança.

Nem faltam pessoas que apreciam uma conversação útil e proveitosa.

Daí a necessidade e a importância de se fazer sempre bom uso da palavra.

Conta-se que, todos os dias, ao sair da igreja, uma senhora dava sua esmola a um pobre. Certo dia, passando por dificuldades financeiras e não podendo ajudá-lo, disse ao pedinte: “Hoje não tenho o que dar a você, mas desejo que seja feliz”, e deu-lhe a mão. O pobre respondeu: “Hoje você me deu a maior das esmolas, pois me deu a sua palavra e manifestou o seu carinho”. Pode ser que todos os dias ela tivesse esse carinho, mas nunca o tinha expressado dessa forma.

A vida é como um iceberg – parte aparece acima das ondas do mar, mas a parte maior fica oculta. Quanto mais nos aprofundamos em nosso ser, mais beleza e valores vamos encontrando; mas a condição sine-qua-non para isto, é a de desvestirmos a roupa imprópria para o mergulho, e trajarmos a roupagem necessária para a nossa própria auto-descoberta.

Diz a lenda que uma pessoa foi contar a um guru que havia falado dos outros de um modo irresponsável e superficial e perguntou o que deveria fazer para reparar o seu erro. O guru, muito sábio, respondeu: “Pegue um saco cheio de penas e solte ao vento; depois de alguns dias volte aqui”. A pessoa fez como lhe havia ordenado. Ao cabo de alguns dias, regressou, ansiosa pela resposta do sábio: “Você será capaz de recolher todas as penas que soltou ao vento?” E deixou que ela tirasse as conclusões.

Em algumas ocasiões, as palavras são como penas ao vento; em outras, ferem como o veneno da serpente, mas, infelizmente, às vezes acontece como a triste história de Otelo e Desdemona.

Gandhi dizia que o amor e a verdade representam duas faces de uma mesma moeda e, que, por meio dessas duas forças, pode-se conquistar o mundo inteiro. É a lógica do pensamento de Jesus do amar ao próximo como a si mesmo. Quem não ama a si próprio, evidentemente não terá conteúdo substancial para concretizar o amor ao próximo.

Estamos vivendo momentos graves, em termos de evolução moral na Terra. Esta civilização, que escolheu evoluir pela dor, tem, contudo, toda a condição de reverter a situação. Bastaria que ouvíssemos as recomendações do Mestre da Galiléia, que de tão singelas e simples, foram recusadas e obstadas em sua divulgação.

Mas, a Verdade é portadora de uma força de atração tão forte, que fará com que o Homem, tal como no Mito da Caverna de Platão, saia em busca da sua Luz.

Então, ela o tornará partícipe de esferas vibracionais nunca dantes imaginadas; pois na Terra, não existem palavras para descrevê-las: por isso elas são transitórias...

Bibliografia: Luz de Esperança, Joanna de Ângelis/Divaldo P.Franco; Othelo, William Shakespeare.


EFE Filosofia Espírita

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EFE- Educação Mediúnica com base na Filosofia Espírita

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